Logo Logo Logo Logo Logo

APRENDIZADO NO TRANCO: depois do tombo no início da recessão, as agências de comunicação reagem e fecham 2016 com crescimento de receitas equivalente

Anuário: índices setoriais de desempenho e tendências em comunicação no Brasil e exterior

Foi dureza. Surpreendidas há pouco mais de dois anos pelo início de um dos maiores  ciclos recessivos da história do País, as agências de comunicação viram-se acuadas contra as cordas. Em 2015, suas receitas totais, no montante de R$ 2,37 bilhões, sofreram uma perda real da ordem de 10,67%, índice correspondente, no período, à média da inflação nacional. Composto majoritariamente por empresas criadas a partir de 2000 (64,4%, conforme levantamento do Anuário da Comunicação Corporativa) –  ou seja, dez anos após o penúltimo grande tombo da economia nacional, durante o governo Collor –, o setor enfrentava seu primeiro teste de sobrevivência em décadas. A reação, no entanto, não tardou: segundo o Anuário, o faturamento em 2016 atingiu a marca de R$ 2,53 bilhões, 6,75% a mais do que o registrado no exercício anterior, caracterizando um “empate técnico” com a inflação medida no período pelo IPCA (6,28%) e o IGP (7,17%). As agências, enfim, estão de volta ao combate, no centro do ringue.

“Num ano absolutamente imprevisível e recessivo, como foi 2016, ficar no 'zero a zero', caso do setor das agências de comunicação, pode ser considerado uma vitória. Basta olhar para os lados e verificar o tamanho do retrocesso de setores como o automobilístico ou o de construção civil. Trata-se de uma prova de resiliência das agências e da importância da comunicação com stakeholders – sobretudo em momentos de grave crise”, comenta Antonio Salvador Silva, presidente da CDI Comunicação Corporativa. João Rodarte, presidente da CDN Comunicação, assinala que “foi um ano difícil, mas o setor conseguiu resultados positivos. Na verdade, 2016 foi muito atípico não apenas pelas crises política e econômica, que ainda enfrentamos no Brasil, mas também porque ficaram explícitos os novos desafios da comunicação no mundo, que vão além do desafio digital”.

Para se equilibrarem em meio à crise, as agências tiveram, antes de mais nada, que fazer ajustes e correções em suas estruturas e dedicar especial atenção às (re)negociações contratuais com clientes. A Planin, por exemplo, lançou uma forte campanha de engajamento de seus funcionários. Com o apoio de uma empresa de consultoria externa, foram eleitas quatro grandes prioridades para a temporada de 2016. “Mobilizamos toda a nossa equipe para o cumprimento das metas estabelecidas. Atingimos todos os objetivos traçados em termos de crescimento de faturamento, de lucratividade, ebitda, redução de custos e a manutenção da qualidade dos serviços”, conta a CEO Angélica Consiglio.

Cortes de pessoal também ganharam espaço nas rotinas do setor. Pela primeira vez em 28 anos de atividades, a Ketchum teve de lançar mão desse recurso: reduziu seu quadro em 15%, de 178 para 155 profissionais. “Foi traumático”, observa a diretora de operações Rosana Monteiro, que destaca a importância do aprendizado proporcionado por crises: “Nas horas difíceis, você olha para dentro da empresa e começa a identificar onde estão os gaps e o desperdício e a tomar providências a respeito. Um exemplo: se antes, quando ganhávamos um prêmio, toda a equipe responsável ia à premiação, hoje vai um só.”

A maior “pedreira” enfrentada pelas agências em 2016, no entanto, foi a pactuação de valores. Do outro lado do balcão, clientes e prospects endureceram o jogo. Em escala crescente, encarregaram das negociações os seus departamentos de compra, deixando as áreas de comunicação e marketing em segundo plano. “A pressão pela redução de fees foi, de longe, a maior que já vi em meus 28 anos de atuação no mercado”, afirma José Luiz Schiavoni, CEO da Weber Shandwick Brasil, nova razão social da S2Publicom. “Muitas empresas que estavam satisfeitas com o atendimento prestado realizaram concorrências com o único objetivo de reduzir os pagamentos às agências contratadas. No ano passado, recusamos convites para participar de nada menos do que 54 disputas desse gênero.”

A queda de braço passou a envolver, de forma mais intensa, outras duas variáveis: reajustes e prazos. Propostas de correção dos fees por índices inferiores à variação da inflação tornaram-se usuais, assim como pedidos de alongamento, a perder de vista, dos pagamentos. O prazo médio de recebimento saltou de 30 para 45 dias, mas algumas agências só passaram a ver a cor do dinheiro entre 60 e até 120 dias depois da prestação dos serviços. “Para aceitar essas condições, é preciso contar com uma caixa muito bem administrado”, destaca Schiavoni, que estabeleceu uma regra básica para as negociações: “Os clientes sempre pedem a redução do fee e da correção monetária, e o alongamento dos prazos, mas só concordamos com um destes três itens das pautas.”

A disputa por um lugar ao sol tornou-se, em suma, mais acirrada. Segundo pesquisa realizada pelo Anuário, nos dois últimos anos a intensificação da concorrência cresceu seis pontos percentuais, de 30,8% para 36,2%, e a redução dos fees decolou de 17,3% para 80,7% no ranking dos maiores desafios do setor. “Para lidar com essa realidade, as agências precisam estar cada vez mais preparadas para negociar com seus clientes”, considera Ciro Dias Reis, CEO da Imagem Corporativa. “Isso significa ter nas áreas de administração e finanças profissionais efetivamente gabaritados para debater valores e alocação de equipes. Além disso, políticas de gestão de custos são fundamentais para manter o equilíbrio financeiro e margens aceitáveis”.

A competição, claro, faz parte do jogo. O problema é que são crescentes as reclamações sobre práticas predatórias nas duas pontas do mercado. As queixas das agências com relação a suas pares concentram-se na prestação de serviços por valores abaixo do razoável. A estratégia  é por vezes utilizada como ponto de partida para uma posterior expansão dos negócios em um cliente, a preços realistas. O subsídio, contudo, implica riscos para quem vende, para quem compra e, por extensão, para todo o segmento.

“Nosso caminho de crescimento terá de ser baseado na relevância do que entregamos e acrescentamos como valor”, pondera Kiki Moretti, diretora-presidente da In Press Porter Novelli. “Para manter clientes ou conquistar participação de mercado, as agências não devem reduzir seus preços sem que isso reflita, de fato, uma otimização ou reformulação do seu modelo de negócio. Marco Antônio Sabino, sócio e presidente da Llorente & Cuenca no Brasil diz acreditar numa depuração feita pelo próprio mercado, “já que os clientes e as suas áreas de compras estão cada vez mais preparados para avaliar propostas. As agências que jogam seus preços para baixo não sobreviverão”ia.

A chiadeira contra os contratantes também é grande. Além das pressões citadas por Schiavoni para baixar os preços de fornecedores de plantão, clientes e prospects do setor privado são muito criticados em razão da reduzida transparência e de outras distorções em suas concorrências. “Há muitos processos descabidos, com briefings rudimentares, desafios estratégicos e criativos oportunistas, prazos exíguos, falta de critérios de avaliação, falta de feedback nos resultados, interlocução com áreas de compras despreparadas”, opina Yacoff Sarkovas, CEO da Edelman Significa. “As agências precisam posicionar-se contra a irresponsabilidade e a falta de profissionalismo de muitas empresas, mas também destacar e referendar aquelas que adotam boas práticas.

Uma atitude usual nesses concursos desperta, em particular, a revolta do setor. Trata-se da apropriação pura e simples, sem qualquer compensação, de ideias apresentadas pelos participantes, ignorando solenemente a Lei de Direito Autoral (9.610/1998). “A proposta de uma agência passa às mãos de outra, que a executa por um preço menor”, explica Patrícia Ávila, CEO da Burson-Marsteller Brasil. “É preciso rever essas condutas”.

Atenta à celeuma, a Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) vem realizando, desde a década passada, um trabalho educativo junto aos compradores de serviços. Dois resultados desse esforço são o manual Como escolher uma agência de comunicação, de 2004, e o Guia de serviços e boas práticas em comunicação corporativa, de 2014. E está prestes (abril) a lançar uma campanha de conscientização e incentivo à aplicação de boas práticas nas concorrências privadas, elaborada com base em pesquisa com as associadas da entidade. “A iniciativa, que está sendo anunciada em primeira mão no Anuário, marca o início do relacionamento efetivo da Abracom com todos os públicos que desenvolvem processos de concorrência”, diz Claudia Rondon, presidente do Conselho Diretivo da Associação e fundadora e presidente da RP1 Comunicação. “Creio que a campanha irá balizar o mercado”.

A comunicação corporativa segue, assim, os passos da propaganda, que há tempos se preocupa em estabelecer, por conta própria, normas e parâmetros de conduta – com destaque para o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), criado em maio de 1980. A escolha do modelo não é fruto do acaso, pois as fronteiras entre os dois segmentos estão em franca abertura, com agências de propaganda invadindo a seara das relações públicas e vice-versa. Prova disso é que cresceu a participação de publicitários e marqueteiros nos quadros das agências de comunicação, de 0,2% para 10,3%, entre 2015 e o ano passado, ficando abaixo apenas de jornalistas (54,4%) e profissionais de RP (13,1%), de acordo com levantamento do Anuário. “A criatividade e a capacidade de reconhecer as necessidades de diferentes mercados ainda é competência do marketing e da publicidade. Não há mais como prescindir desses profissionais”, observa Mara Ribeiro, titular da agência que leva seu nome.

No último ano, várias marcas importantes do ramo de RP formalizaram sua travessia rumo a essa nova frente de negócios. O chamado inbound marketing foi abraçado, entre outras, por Imagem Corporativa, Press à Porter, ADS e CDI. Esta também fincou sua bandeira no mercado da publicidade por meio da Bolter, que tem como concorrente a também novata Little George, da Ketchum, cujo nome homenageia, com um toque de irreverência, o fundador George Ketchum (1893-1975). Essa agência de propaganda, que ocupa uma área exclusiva na sede da Kecthum em São Paulo, já contabiliza sete clientes exclusivos. “A Little George funciona também como base de criação para outras operações do grupo no exterior”, destaca Rosana Monteiro. “Ela atua de forma independente, o que lhe permite atender a contas conflitantes com as nossas”.

Ditada em boa parte pela crise econômica e a queda dos fees de serviços mais convencionais, a diversificação de atividades do setor abrange outros nichos. A CDI lançou a Dialogus, especializada no treinamento de equipes de vendas e recursos humanos. Já a Approach Comunicação pôs em ação a Ponte Filmes, com foco no mercado corporativo, e a Agência Juntos, projeto de cunho social que terá desdobramentos. “Já criamos o LabJuntos, uma plataforma de inovação cujo objetivo é melhorar habilidades práticas de trabalho e tomadas de decisões que impactam o mundo”, conta a CEO Beth Garcia. “Vamos oferecer eventos que apresentarão cenários, tendências culturais, de comportamento, impacto social e comunicação, além de programas de imersão e coaching para empresas e organizações, cursos, palestras e workshops“.

A inovação, por sinal, está em alta no setor. No ano passado, segundo apurou o Anuário, 67,1% das empresas do setor criaram serviços e processos, ante 58,4% em 2015. A maioria das novidades insere-se na esfera digital, regra que vale para todo o segmento. A Textual, por exemplo, segue às voltas com a digitalização de toda a sua estrutura, e a Dezoito Comunicação criou um sistema de disparo de releases sob medida para redes de franquias, que permite aos clientes personalizarem o conteúdo e selecionarem a região de divulgação. Entre as grandes, alguns dos destaques são a Approach e a Planin, por lançamentos de ferramentas de detecção e mapeamento de influenciadores digitais. “Tiraremos do papel, em breve, duas novas unidades de negócios para atuar nos segmentos de comunicação via mobile, sistemas, mídias sociais, vídeos e aplicativos. Os investimentos previstos somam R$ 1 milhão”, anuncia Angélica Consiglio, da Planin.

A Burson-Marsteller também vem reforçando seu cardápio na área digital. Um marco, em 2016, foi o lançamento do Big Data Brand Audit, sistema que permite o monitoramento e a análise do impacto de ações de comunicação e marketing de marcas. “Ele ajuda a identificar claramente onde investir tempo, recursos e esforços para atingir objetivos estabelecidos, com base nos padrões de consumo de informações de um público-alvo definido em relação a um setor ou tema”, explica a CEO Patrícia Ávila, que anuncia outros trunfos: “Vamos lançar um novo modelo de mensuração e análise da exposição integrada das marcas nas mídias on e off-line, além de uma parceria na área de marketing esportivo para potencializar a nossa oferta de fan experience no mercado brasileiro”.

Com forte atuação no setor público, o Grupo Informe tem, igualmente, grandes planos para 2017. A meta é de um crescimento de 30% nos investimentos, que serão concentrados em tecnologia, recursos humanos e relacionamento com os clientes. Segundo as sócias e diretoras da agência Alba Chacon e Rebeca Scaltrut, essa disposição é resultado de uma reação dos indicadores econômicos e, sobretudo, do cenário dos negócios: “Entre o final de 2016 e o início de 2017, foram lançadas várias licitações públicas na área de comunicação – com valores, inclusive, superiores aos registrados em anos anteriores. Para atender a essa demanda, reforçamos o nosso time – não só com profissionais de comunicação, mas também com pessoal voltado ao relacionamento com os clientes e à área comercial”.

As expectativas do segmento são positivas. O Índice de Confiança do Empresário de Comunicação Corporativa, uma novidade desta edição do Anuário, mostra que, na escala de zero a cem, as agências estão razoavelmente satisfeitas com o desempenho nos últimos seis meses (57,9) e esperançosas em relação ao próximo semestre (69,6). Com grau de confiança moderado, Raul Fagundes, diretor-executivo da MediaLink, e Rosana De Salvo, sócia-diretora da ADS Comunicação Corporativa, acreditam que o pior já passou e relatam crescimentos das receitas nos primeiros três meses 2017, em relação a igual período do ano passado. A reação também é sentida por outros atores do ramo.

“No primeiro trimestre, entregamos mais propostas do que em todo o segundo semestre de 2016. Supondo, com base em nossa experiência, que entre 10% e 20% vinguem, já será um grande avanço comparado com o mesmo período do ano passado”, relata Lais Guarizzi, sócia-presidente da G&A Comunicação. “A retomada em 2017 é um fato. Estamos atuando de forma cada vez mais intensa e convergente nas áreas digital e de publicidade. Mas a demanda por produtos e serviços mais tradicionais também se mantém em bom nível”, comenta Flavia Cola, diretora-gerente da MSLGroup Andreoli.

Em algumas agências, no entanto, o otimismo dá o tom de forma escancarada. É o caso da Ágora Public Affairs & Strategic Communications, que desembarcou no País em janeiro último. Pilotada por Cristina Iglecio, que dirigiu a JeffreyGroup no Brasil de 2008 a 2016, a operação local da agência argentina, que conta com apenas quatro profissionais, já conquistou dois clientes – um nacional, outro estrangeiro. “A meta é chegar a pelo menos oito até dezembro”, diz Cristina, que já pensa em abrir o leque de serviços, hoje concentrado em consultoria. “Ainda neste ano, pretendemos trazer para cá a Quiditty, braço da Ágora voltado a pesquisas e análise de dados com a tecnologia de Big Data”.

A Conteúdo Comunicação também não tem, pelo menos até o momento, motivos para se queixar de 2017. Fundada em 2000, a agência teve de apertar o cinto em 2016 para enfrentar a partida de alguns clientes logo no primeiro semestre. Optou, então, por manter a equipe e sacrificar as margens nas negociações de contratos. “Foi a decisão correta, pois se tivéssemos efetuado cortes de pessoal a queda no padrão de atendimento talvez resultasse na perda de mais contas”, comenta o diretor Cláudio Sá.

A racionalização de gastos ganhou peso nas rotinas internas da agência, sem no entanto comprometer os investimentos na área digital. Em paralelo a isso, a Conteúdo passou dedicar especial atenção à prospecção de negócios. Os bons ventos começaram a soprar no fim de 2016. Desde então, conquistou uma série de contas, incluindo duas bem graúdas, e passou a atender a 35 clientes, sete a mais do que no início do ano passado. “Nos últimos meses, contratamos 14 profissionais seniores, e não deveremos parar por aí. Esperamos obter mais cinco contas ainda no primeiro semestre”, conta Sá. “O cenário político segue confuso, mas clientes e prospects já mostram maior confiança e começam a desengavetar projetos. Acredito que cresceremos entre 12% e 15% neste ano.”

PONTOS ACIMA DA CURVA

A maioria das agências de comunicação deu-se por satisfeita com o “empate técnico” entre a evolução das receitas e a inflação na dura temporada de 2016. Teve gente, contudo, que pôde estourar rojões e champanhes ao final do ano. Trata-se de um grupo reduzido, formado por pequenos, médios e grandes, que alcançou índices de crescimento na casa de dois dígitos graças a apostas acertadas em novos serviços e segmentos de atuação. A relação incluiu, entre outras, 2Pró, Grupo Printer, RMA, Ideal H+K Strategies e a líder do ranking, a FSB Comunicação, que registrou alta de 12%.

“Ficamos abaixo da nossa média histórica, que se situa na faixa de 15% a 20% ao ano, mas alcançamos um desempenho bem satisfatório, considerando o cenário político e econômico do País”, comenta o sócio-diretor Flávio Castro. “Enxugamos a nossa estrutura, ampliamos o leque de serviços, o que compensou a queda dos fees, e demos especial atenção, entre outros itens, ao marketing digital e à gestão de crises e de imagem”.

Um dos maiores desafios enfrentados foi a crise no setor público, segmento em que a agência tem forte presença. A salvação nessa lavoura foram os Jogos Olímpicos Rio 2016, por meio de contratos com Ministério dos Esportes e Prefeitura do Rio de Janeiro, que compensaram parte das receitas perdidas devido a cortes e contingenciamentos de verbas nos Executivos federal e estaduais. Apesar das dificuldades, a FSB não pretende abrir mão dos espaços conquistados nas esferas governamentais. “Seguiremos a investir no setor público, pois contamos com a melhor estrutura para atendê-lo", diz Castro. "Mas também temos grande interesse no setor privado – em particular no varejo e em fabricantes de produtos de alto consumo. Ambos garantem boa parte do faturamento das agências no exterior, o que não ocorre por aqui."

Novos ramos de atuação são outros destaques do plano de voo. Presente, há tempos, em publicidade e propaganda, a agência passou a atuar recentemente em marketing, recorrendo a tecnologias de ponta. Alguns exemplos são o social commerce, que utiliza as redes sociais para alavancar vendas, e o social pulse, voltado ao monitoramento e à definição de estratégias de preservação e valorização da imagem de clientes no universo digital. É um mix que, combinado aos serviços prestados há mais tempo, vem apresentando resultados. "Desde janeiro, conquistamos nove clientes", conta o sócio-diretor da FSB. "Os negócios em 2017 começaram num patamar um pouco abaixo do previsto, mas notamos um aquecimento no fim do primeiro quadrimestre. O segundo semestre será melhor do que o primeiro, e 2018, com certeza, melhor do que este ano”.

Igualmente positiva é a análise do Grupo RMA, que cresceu em meio à crise de forma orgânica e por meio de aquisições. Antes formado por três empresas – a agência de relações públicas RMA Comunicação, e a Hook Digital e a BrainStory, estas focadas nos segmentos do mercado de marketing –, a organização assumiu em novembro de 2016 o controle acionário da Perspectiva Comunicação. O negócio foi o gran finale de uma temporada próspera. "Registramos um crescimento de 20% em 2016, com a participação decisiva da área de serviços digitais ", informa o sócio-diretor Marcio Cavalieri.

A boa fase teve sequência no primeiro trimestre de 2017. Graças ao boca a boca e ao trabalho de uma recém-criada equipe encarregada do mapeamento e da prospecção de negócios, a RMA reforçou sua carteira de clientes com oito contratos. "As perspectivas para o ano são boas", observa Cavalieri, que só se queixa das condições impostas em concorrências: "Os prazos são muito curtos e o escopo vai além do que seria razoável. Em alguns casos, exige-se já nas propostas a entrega de praticamente todo o trabalho de planejamento."

Com o faturamento em franca ascensão desde 2010, o Grupo Printer de Comunicação lançou mão de uma estratégia singular para dar outro salto de dois dígitos no ano passado. O negócio, que completou duas décadas de atividades em novembro, realizou um minucioso mapeamento de setores da economia menos impactados pela recessão. Em seguida, partiu para a abordagem desses potenciais clientes, com o envio de uma newsletter mensal – cujos conteúdos destacam a importância dos investimentos em comunicação corporativa –, anúncios em publicações técnicas e setoriais, participações em feiras e eventos, como patrocinadora e expositora, além de contatos por telefone e visitas. "O trabalho deu resultado. Conseguimos expandir nossa atuação, com destaque para o segmento de saúde", contam os sócios-diretores Rosangela Ribeiro e Fernando Saliba, que trataram logo de aperfeiçoar o modelo. "Neste ano, segmentamos a nossa área comercial e criamos gerências de produtos com metas bem definidas."

O leque de serviços prestados acompanhou o crescimento da carteira de clientes. Em 2016, o Grupo Printer investiu em eventos e na diversificação e agregação de valor à sua área digital. Uma iniciativa de relevo nessa seara foi o desenvolvimento e o lançamento de uma rede social interna, para ações de endomarketing. Para 2017, as prioridades permanecem as mesmas, em linhas gerais. "As áreas digitais, de business inteligence, comercial e de marketing receberão os maiores investimentos. Nossa expectativa é crescer, no mínimo, 10%", assinalam Rosangela e Fernando.

A criatividade, combinada com o apertar do cinto, também deu o tom na 2Pró Comunicação. A agência, que cresceu 13,9% em 2016, tratou de racionalizar gastos e despesas, sem colocar em risco sua eficiência, e teve, por vezes, de assumir carga de trabalho maior pelos mesmos fees, para evitar perdas de clientes. "Além disso, ampliamos a oferta de serviços, especialmente na área de mídias sociais", explica a fundadora e titular Myrian Vallone, que, para otimizar custos, passou a trabalhar em conjunto com alguns  concorrentes. "Temos hoje uma carteira de pelo menos cinco clientes atendidos em parceria com agências de outras regiões. A ideia se mostrou acertada”.

O ajuste da Race Comunicação à crise foi mais trabalhoso. A perda de alguns clientes internacionais provocou forte queda do faturamento no primeiro semestre de 2016. A solução foi a diversificação do cardápio de serviços para comunicação corporativa. A agência, com escritórios em São Paulo e Goiânia, apostou firme em content marketing, aprimorou sua ferramenta de disparo de releases e adotou novas plataformas operacionais, como as oferecidas pelo Google, que permitiram ganhos de eficiência no atendimento. Conseguiu, assim, virar o jogo e fechar o ano com crescimento na casa da dezena, meta também estabelecida para 2017. "Nossa expectativa para este ano é de um crescimento de pelo menos 20%", diz o diretor executivo Rogério Artoni. "O content marketing deve ganhar ainda maior peso, pois é o serviço mais demandado”.

Outro ponto importante na volta por cima da Race, na avaliação do executivo, foi a atenção dedicada à equipe. Desde a temporada passada, os funcionários da casa têm direito, entre outros benefícios, a folgas no aniversário e em feriados prolongados sem a necessidade de compensações posteriores, almoços coletivos em restaurantes escolhidos pelos aniversariantes do mês e sessões de cinema para os quadros femininos em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. "Valorizamos o nosso time e, como consequência, ganhamos em qualidade no atendimento dos clientes", observa Artoni.

O trabalho de prospecção da Race vem surtindo efeito. Uma coisa, no entanto, é identificar potenciais clientes. Outra, bem diferente, é acertar uma remuneração justa, em meio a um cenário de crise e de intensa concorrência no setor. Muitas agências, assinala Artoni, vêm apresentando propostas com valores reduzidos sem especificar a carga horária e a qualificação dos profissionais destacados: "Ou seja, vendem, por exemplo, 80 horas de atendimento sênior e entregam 120 horas aos cuidados de estagiários. São canoas furadas, sem dúvida, mas vêm atraindo clientes em razão do preço".

O interesse despertado por ofertas desse tipo é mais um sintoma, na avaliação de Eduardo Vieira, coCEO da Ideal H+K Strategies, de que o mercado da comunicação corporativa ainda carece de amadurecimento em suas duas pontas – fornecedores e compradores. Muitas agências, em sua análise, ainda se comportam de forma reativa, como meras fornecedoras dos clientes, e não como suas parceiras estratégicas: "Criar essa relevância é um desafio para o setor. Enquanto isso não ocorrer, teremos de lidar com pressões cada vez maiores para reduzir fees e custos, sobretudo em momentos de crise, como o que o País enfrenta atualmente".

Criada há dez anos, a agência concluiu em 2016 sua fusão com a Hill + Knowlton, do grupo britânico WPP. A somatória das carteiras e dos novos negócios elevou as receitas em cerca de 12%. Para 2017, as fichas da Ideal H + K concentram-se em gerenciamento de crises e em seu carro-chefe, a área digital, que atua em várias frentes: de ações com influenciadores digitais a projetos de maior fôlego com o uso de Big Data, ou seja, grandes bancos de dados que permitem a análise e o cruzamento de informações. "O mercado vai melhorar, mas não em 2017. Trabalhamos com uma recuperação somente a partir de 2018, pois o cenário político ainda se mostra muito instável", ressalta Vieira.

Autor: 5