Dia 25 de julho está aí, enfim, o “Dia Nacional do Escritor”! Muitos me deram, estão dando ou darão parabéns, mirando no glamour do ofício. Tenho agradecido, filosofando no quanto sou resistente.
Afinal, paira no ar: quase ninguém lê livros no Brasil. Esse é o mantra que persegue o mercado editorial brasileiro e desestimula novos escritores a se jogarem no mundo de suas criações. Será verdade? As raízes desse credo estão entrelaçadas com a estabilidade econômica razoavelmente recente, o fato de a educação nunca ter sido real prioridade e os salários estarem cada vez mais defasados – há uma inflação sorrateira e invisível que o supermercado insiste em nos alertar. Quem vai comprar livros se o próprio papel que lhes dá base está caríssimo?
Para agravar, vivemos o apogeu da atenção pulverizada: gatinhos e crianças em vídeos de 10 segundos nos raptam os poucos minutos de descanso; piadinhas, comentários entrecortados, fotos de gente bronzeada e voilà, dia seguinte teremos ônibus, metrô e nova jornada de trabalho.
Há um círculo vicioso cultural no Brasil, verdadeira bomba-relógio. Sem fomento à leitura e ao pensamento crítico, estamos caminhando para uma nação de puro analfabetismo funcional. Compreensão de texto? Ninguém mais sabe, ninguém mais viu, e até pequenas legendas em redes sociais são lidas às pressas, mal interpretadas e se tornam alimento para ‘hates’ e cancelamentos.
Como virar o jogo? Há décadas o sistema educacional brasileiro se encontra precarizado no ensino de Humanidades. Boa parte do currículo escolar ainda é povoado por fórmulas de Bhaskara e tantas outras inconsistências que nunca irão auxiliar a vida adulta. Essa falta de estímulo governamental à leitura e ao pensamento crítico já se reflete politicamente nas novas gerações de vereadores, deputados e senadores, que ressuscitam fundamentalismos, inverdades, negacionismos e potencialmente selarão nossa cultura com a devida pá de cal.
Ser escritor no Brasil atualmente é, portanto, um ato de resistência política. Escrever um livro é como mandar mensagens dentro de garrafas e jogá-las ao mar: única esperança do náufrago. Esperança nas novas gerações, esperança no fomento à cultura e reforma consciente da educação pública. Eu ainda creio nisso. E você?
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