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Paulo Andreoli: “As empresas maduras podem optar por uma estratégia de inovação incremental, por meio da qual se reinventam ao oferecerem novos produtos que respondam às tendências atuais e futuras do mercado. Este é o movimento que a And,All fez ao se tornar independente"
“É importante aprender a não se aborrecer com opiniões diferentes das suas, mas dispor-se a trabalhar para entender como elas surgiram. Se depois de entendê-las ainda lhe parecerem falsas, então poderá combatê-las com mais eficiência do que se você tivesse se mantido simplesmente chocado”. Bertrand Russel, matemático e filósofo inglês (1872-1970)
Se um investidor desatento desembarcasse hoje no Brasil poderia se surpreender com a dinâmica da indústria de relações públicas, em particular com os movimentos na esfera das incorporações, fusões e aquisições. Como todos sabem, a indústria de PR e comunicação corporativa alcançou, em todo o mundo, um grau de maturidade empresarial – quando as empresas atingem um estágio avançado de desenvolvimento e estabilidade em seu ciclo de vida.
Na fase madura, as empresas apresentam um crescimento mais lento das receitas, há uma consolidação de mercado, estabilidade operacional e uma presença estabelecida no setor onde atuam. Neste contexto surgem as incorporações, fusões e aquisições, em geral motivadas pela busca de um novo posicionamento estratégico. As empresas maduras podem optar por uma estratégia de inovação incremental, por meio da qual se reinventam ao oferecerem novos produtos que respondam às tendências atuais e futuras do mercado. Ao contrário das startups, que desde o seu início se concentram em inovações disruptivas, empresas maduras podem rejuvenescer significativamente com a inovação incremental. Este é o movimento que a And,All fez ao se tornar independente.
Nota-se no mercado que grupos multinacionais de comunicação buscam incorporar e fundir algumas das suas agências. Um movimento compreensível, pois dessa forma procuram estrategicamente acelerar o crescimento, ganhar na economia de escala e encontrar sinergias, entre outras vantagens. Mas há, curiosamente, um movimento que consiste apenas em juntar empresas e, assim, compor algo como um “puxadinho” para mostrar ao mercado que são empresas grandes e bem-sucedidas. O modelo “tupiniquim” não tem uma governança estruturada e os donos das empresas incorporadas assumem uma posição na suposta holding. Nessa configuração, novas e grandes agências surgem não motivadas pela busca de inovação para satisfazer a seus clientes atuais e futuros. Pensam em criar receitas significativas e um número de clientes suficientes para impressionar e atrair investidores desatentos, como aquele que desembarcou no primeiro parágrafo deste artigo. Trata-se provavelmente de um movimento de alavancagem focado na futura venda e não no rejuvenescimento da indústria e nas expectativas dos clientes.
Num primeiro momento podem surpreender pela robustez. E há clientes que preferem optar sempre pelos maiores no ranking e não pelos melhores. É realmente mais fácil, pois desobriga os decisores a explicarem suas escolhas por agências de médio e pequeno portes, classificadas pela sua receita e número de funcionários – como se tais fatores explicassem a excelência do que fazem.
O problema das incorporações focadas exclusivamente na futura venda está no fato de que existem menos investidores desatentos do que as holdings que surgem no mercado brasileiro de PR. O lado positivo é que temos no Brasil muitos advogados, que certamente se encarregarão, no futuro, de desatar o nó da governança e os desentendimentos dos condôminos dos “puxadinhos”. Quem já foi síndico de prédios sabe.