"As empresas que se preocupam em reter bons talentos em meio à crise deverão reavaliar o pacote atual de benefícios, uma vez que a necessidade dos empregados mudou”, explica Ronn Gabay
A crise causada pelo coronavírus impactou não só a economia do Brasil em termos de empregabilidade e geração de renda, mas também a percepção dos empregados sobre o pacote de benefícios oferecidos por suas empregadoras. É o que diz Ronn Gabay, diretor e especialista em benefícios da Bematize. Segundo ele, a valorização dos empregados em relação aos benefícios de auxílio-alimentação, seguro de vida e plano de saúde tende a crescer, e as empresas que quiserem reter talentos em meio à crise deverão rever a gestão atual.
“Antes víamos uma preferência dos empregados mais jovens por benefícios como auxílio-refeição, academia e educação dentre eles cursos de MBA e faculdade. Com o fechamento temporário de estabelecimentos comerciais e o isolamento social por causa da pandemia, alguns deles deixam de ser necessários neste momento. Vale transporte é algo que dá para ser cortado, mas o que fazer quanto aos outros? As empresas que se preocupam em reter bons talentos em meio à crise deverão reavaliar o pacote atual de benefícios, uma vez que a necessidade dos empregados mudou”, explica Ronn Gabay.
De acordo o especialista, a gestão flexível pode ser uma alternativa para empresas que precisam alterar a forma tradicional como oferece benefícios aos seus colaboradores, mas encontra dificuldades para tomar uma decisão do que fazer.
“Os benefícios flexíveis podem ser um bom caminho para organizações que precisam realizar a troca tradicional. As empregadoras que já oferecem essa modalidade saem na frente nesse período de crise, pois a política para que os empregados optem por investir valores diferentes em cada benefício mantém a satisfação de cada um, pois atende suas necessidades. Já as que optarem pela forma tradicional, na troca do benefício de auxílio-refeição pelo auxílio-alimentação, possivelmente agradarão muitos empregados, mas não a todos. Assim como, se investir mais no seguro de vida, pode não agradar a todos”, explica Ronn.
Uma pesquisa realizada pela empresa, envolvendo empresas que oferecem a modalidade de benefícios flexíveis aos seus empregados, aponta que 89% delas realizam alguma alteração em seu pacote tradicional, 60% investem, visando ampliar a cobertura de seguro de vida, e 14% optam por reduzir a assistência médica em troca de valores de auxílio-refeição mais elevados. Para o especialista em benefícios, com o isolamento social isso pode mudar.
“Durante esse período de pandemia, muitos empregados estão trabalhando de casa, e a necessidade do auxílio-refeição reduziu significativamente. Por outro lado, os colaboradores vêm buscando maiores informações relativas ao seguro de vida e assistência médica, percebendo que são mais importantes em caso de contraírem o coronavírus” comenta.
Seguradoras de saúde devem rever cláusulas para não perder vidas contratadas
Segundo a Susep, órgão regulador dos seguros no país, os riscos causados por “epidemia ou pandemia declarada por órgão competente”, são excluídos da cobertura na apólice. Para Ronn, as seguradoras também deverão rever cláusulas e a forma como atendem empresas na gestão de benefícios, pois correm o risco de perder seus contratos.
“Vejo uma movimentação no mercado, e as principais seguradoras já estão revendo suas condições, estendendo a cobertura para situações de pandemia e epidemia. As cláusulas contratuais, em letras minúsculas, deixam os gestores de RH em pânico. Em contrapartida, as seguradoras não querem perder seus contratos com grandes empresas que possuem a necessidade de um seguro que atenda melhor seus colaboradores, por isso, elas devem rever cláusulas contratuais e melhorar o atendimento. O fato é que, essa crise veio para revolucionar a forma como as empresas entregam benefícios a seus colaboradores, são esperados impactos positivos no setor, que poderão ser percebidos daqui a alguns meses”, finaliza.