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Repensando rotas comerciais

Divulgação

Roger Darashah: “Nossa empresa testemunhou mudanças com níveis crescentes de interesse de rotas comerciais alternativas, como China, Índia, Oriente Médio e Rússia. E agora estamos nos preparando para aproveitá-las ao máximo. Isso significa recrutar equipes com experiência internacional e construir um modelo de negócios (e presença) que possa acomodar fusos horários e práticas de trabalho indianos e chineses”

Para nossa empresa, 2023 foi caracterizado pelo que chamo de “rotas comerciais alter­nativas”. Por décadas, o setor de RP da Amé­rica Latina – incluindo o do Brasil – foi alimentado por marcas internacionais, principalmente dos EUA e, em menor medida, da Europa. Empresas como Coca-Cola, PepsiCo, Nestlé, Unilever e P&G do­minaram o espaço do consumidor, enquanto Fiat, Volkswagen e Chevrolet, por exemplo, mantiveram as três principais posições no mercado automobi­lístico do Brasil desde 1991.

Posso atestar pessoalmente como as agências globais de RP construíram efetivamente suas re­des em torno desses clientes; a HP foi um grande impulsionador de crescimento para a Edelman e a Weber, onde trabalhei anteriormente; mais tarde, startups da era digital como LinkedIn e eBay (sim, eram startups no início dos anos 2000!) desempe­nharam um papel semelhante.

Esse crescimento foi mais do que receita; essa experiência permitiu que os escritórios locais ad­quirissem experiência internacional, compartilhas­sem as melhores práticas e se familiarizassem com as expectativas dos clientes globais. Foi um aprendizado fantástico para muitos. Mas esse eixo está mudando; e está começando com pura eco­nomia. Deixe-me compartilhar alguns exemplos: hoje, a América Latina representa um terço das exportações globais de carros e motocicletas da Índia (isso representa US$ 1,79 bilhão em vendas), enquanto as exportações de todos os produtos da Índia para o Brasil (US$ 6,48 bilhões) são maiores do que para os parceiros comerciais tradicionais, como Japão (US$ 6,18 bilhões) e Tailândia (US$ 5,7 bilhões).

Outro exemplo é a China. De acordo com o Fórum Econômico Mundial (WEF), o comércio en­tre a China e a região da América Latina e Caribe cresceu 26 vezes entre 2000 e 2020, de US$ 12 bilhões para US$ 315 bilhões. Para comparação, o comércio total entre a UE e a região da Améri­ca Latina e Caribe em 2020 alcançou apenas US$ 197,4 bilhões.

Nossa empresa pôde testemunhar essas mu­danças com níveis crescentes de interesse de rotas comerciais alternativas, como China, Ín­dia, Oriente Médio e Rússia. Grande parte desse crescimento está surgindo da chamada economia “tangível”, como comércio eletrônico e o setor automobilístico. Empresas chinesas de comércio eletrônico como Temu e Shein conquistaram o mercado latino-americano. O Brasil já representa o maior mercado da Shein, impulsionado por sua fórmula de produtos acessíveis e incentivos fiscais (até o momento, nenhuma taxa é cobrada sobre vendas abaixo de US$ 50); mas está olhando além das exportações. A empresa espera criar 100.000 empregos no Brasil e gerar até 85% das vendas a partir de itens produzidos localmente até 2026.

A economia “descentralizada” menos tangível – produtos e serviços baseados em Blockchain – também está consolidando essas rotas comerciais alternativas. Países latino-americanos – especial­mente El Salvador, mas também Brasil – têm lide­rado a adoção de serviços descentralizados – de pagamentos a outros instrumentos financeiros –, e grande parte da inovação está vindo da Ásia. De acordo com o Índice de Adoção Global de Cripto­moedas de 2023 da Chainalysis, nações do sudes­te asiático como Vietnã, Filipinas e Tailândia estão preparadas para uma revolução cripto transforma­dora, enquanto Cingapura continua a experimentar com regulamentação cripto.

Nossa empresa testemunhou essas tendências em primeira mão em 2023; e agora estamos nos preparando para aproveitá-las ao máximo nos pró­ximos anos. Isso significa recrutar equipes com ex­periência internacional (até mesmo além da Amé­rica Latina) e construir um modelo de negócios (e presença) que possa acomodar fusos horários e práticas de trabalho indianos e chineses.

Certamente não estamos abandonando nossos mercados internacionais tradicionais nos EUA e na Europa; trata-se de estar preparado para abraçar novos, que hoje parecem “alternativos”. Amanhã, eles serão simplesmente mainstream.