José Paulo de Andrade esteve desde 1973 à frente do matinal "O Pulo do Gato", da Rádio Bandeirantes, programa mais longevo do rádio brasileiro
Faleceu na manhã de hoje, sexta-feira, vítima de um quadro de enfisema pulmonar agravado pelo COVID 19 o jornalista José Paulo de Andrade, aos 78 anos. Um dos mais importantes nomes do jornalismo e do rádio Brasileiro, José Paulo lutava contra a doença há dois anos, e estava internado desde o último dia 7 no Hospital Albert Einstein (SP), devido ao agravamento do quadro respiratório provocado pelo vírus.
Referência e inspiração para grande parte dos profissionais da área, José Paulo tornou-se um símbolo, ícone da evolução do radiojornalismo brasileiro, tendo conduzido, ao longo de sua carreira, dois dos mais significativos e longevos programas jornalísticos e informativos do rádio.
José Paulo de Andrade começou sua carreira profissional em 1960, aos dezoito anos, como radioescuta do plantão esportivo da Rádio América de São Paulo, transpondo para o trabalho a sua paixão pelo esporte. São-paulino fanático, atuou ainda como repórter de campo quando de sua chegada à Rádio Bandeirantes, em 1963, logo sendo passado a locutor esportivo, posição ocupada durante 14 anos.
Já na década de 70, José Paulo atuou no jornalismo geral, como apresentador e comentarista. Entre os jornalísticos que apresentou, destacam-se Titulares da Noticia, Jornal de São Paulo, Rede Cidade, Band Cidade e Entrevista Coletiva. José Paulo faz aparições também na Rede Bandeirantes de Televisão, principalmente atuando em debates políticos. Na mesma emissora, em passagem inusitada de sua carreira, interpretou Don Diego/Zorro em As Aventuras do Zorro, de 1969.
Quando do falecimento do jornalista Vicente Leporace, apresentador de programa ‘O Trabuco’ em 1978, José Paulo de Andrade, juntamente com Salomão Ésper e Joelmir Beting, entraram na programação com o substituto Jornal Gente, permanecendo durante 35 anos no ar com o mesmo trio de comando.
Mas seu mais importante trabalho, sem sombra de dúvidas, foi ‘O Pulo do Gato’, longevo programa matinal da Rádio Bandeirantes que teve a condução de José Paulo de 1973, ano de criação, até o corrente ano, sem interrupções – o que rendeu ao programa o título de mais longevo da rádio no Brasil, e ao jornalista seu espaço como ícone da Comunicação Nacional.
Curiosamente, em paralelo à carreira na Comunicação, José Paulo de Andrade iniciou o curso de direito na USP em 1962, interrompendo o mesmo em seguida por compromissos profissionais, e vindo a se graduar na FMU no ano de 1973.
O jornalista, escritor e âncora do Jornal da Eldorado, Haisen Abaki, lamentou em depoimento ao Jornal da Comunicação Corporativa a perda de seu amigo e inspirador. “Trabalhei com ele por 12 anos, mas a relação é muito mais antiga, desde os 9 anos, quando através do meu pai fui apresentado ao seu programa “O Pulo do Gato”. Eu sempre brincava com o Zé Paulo, a gente ria muito disto, porque eu falava que minha relação com ele era de ódio e amor, nesta ordem. Primeiro veio o ódio, detestava ser acordado pelo meu pai com aquele “gato”, e depois, aos poucos, fui virando ouvinte, entendendo um pouco mais, crescendo. Quis ser jornalista e tive a felicidade de trabalhar com ele, dividindo o microfone, bancada, dia-a-dia, confidências...”. Emocionado, finaliza: “Pudemos dividir muitos momentos profissionais e pessoais, e é uma perda que sentiremos muito. Sua ausência, a voz forte no rádio, ele representa muita inspiração, pra gerações de jornalistas e também pra ouvintes como eu, que o acompanhava há tanto tempo. Sempre vou ficar com as boas lembranças na minha memória, o aprendizado que foi a convivência, a proximidade”.
O Jornalista, produtor, cineasta, professor-doutor em Comunicação Ulisses Rocha também comentou com a reportagem sobre a perda: “O José Paulo de Andrade era um dos últimos arquivos vivos da história do rádio brasileiro. Em 60 anos de carreira, ele noticiou os principais acontecimentos e se tornou a maior expressão do radiojornalismo do país. A morte do Zé Paulo representa a perda de um profissional ético, comprometido com a verdade, com a apuração precisa e o constante desejo de informar com isenção e imparcialidade. Como colega era simples e generoso; ensinava pelo exemplo. O jornalismo ficou mais pobre hoje e se enfraquece, como tem sido cada vez mais frequente. Morre um símbolo da imprensa do Brasil."
Para Antonio Afif, jornalista, músico, produtor, economista graduado pela Universidade Mackenzie, com formação em Política pela UnB e âncora do programa Cult Musical, da Rádio Mega Brasil Online, “O Brasil perdeu um dos seus ícones do jornalismo. Tive o privilégio de compartilhar da amizade do José Paulo de Andrade por muitos anos. Amigo de verdade. Possuía uma sabedoria ímpar que sabia colocar em suas críticas nos mais variados assuntos. A última vez que o encontrei foi quando participei do programa Bandeirantes Gente, ao lado de Salomão Ésper e Rafael Colombo. O rádio brasileiro ficou mais pobre".
O jornalista deixa esposa e dois filhos. Não foram divulgados dados sobre o sepultamento.