A Dra. Adriana Dantas é a convidada do Inclusive dessa semana.
O foco agora é informação e prestação de serviço... está na hora de Inclusive, aqui na Rádio Mega Brasil Online.
Em algum momento você já refletiu sobre as origens das palavras que são pronunciadas cotidianamente?
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55% da população no Brasil é afrodescendente, sendo o país com mais descendentes de africanos fora da África.
Assim, convidamos a Dra. Adriana Dantas, Doutora em Educação pela USP, e linguistas da equipe didática da Babbel para detalhar sobre um abecedário africano em homenagem às heranças linguísticas brasileiras, com palavras consultadas no Novo Dicionário Banto de Nei Lopes.
Afinal, o povo brasileiro entende que há uma diferença entre a língua falada no Brasil e a falada em Portugal? Entende que o “português brasileiro” é bem diferente da língua mãe europeia e que um dos motivos é a rica herança cultural dos povos africanos e indígenas no continente americano? Isso deve ser motivo de orgulho e não de discriminação das etnias que tornaram a língua brasileira distinta da sua origem europeia.
A língua portuguesa foi marcada pelas centenas de línguas faladas pelos povos nativos que moravam no Brasil. Até o século XVIII, havia uma língua geral baseada no tupi, o nheengatu, que hoje ainda é falada por algumas pessoas.
Depois, o modo de falar no Brasil recebeu novas influências culturais com a chegada das diferentes línguas das etnias africanas. Dentre elas, a família linguística banto, proveniente de uma vasta região que hoje cobre três países: Angola, Congo e Moçambique. São cerca de 300 línguas entre quicongo, iorubá, umbundo e quimbundo. Diversas palavras vindas da família linguística banto são usadas no cotidiano do brasileiro. Isso mostra como os africanos enriqueceram a cultura brasileira com seus conhecimentos. Essa sabedoria foi incorporada em vários termos falados no Brasil.
Conheça algumas palavras do abecedário português brasileiro que foi influenciado pelos africanos:
A – Angu. Os africanos ensinaram os brasileiros a cozinhar o angu, que é uma mistura de farinha de milho ou de mandioca com água para fazer pirão. O termo vem do quimbundo hungu.
B - Bazuca. O nome dado a essa arma de guerra também teve origem no banto. Essa palavra vem do termo basuka, que indica explodir ou ser incendiado em quicongo.
C - Cachaça. Essa bebida brasileira teve sua origem nas plantações de cana-de-açúcar no tempo da escravização. Os negros eram responsáveis pela técnica de transformar a cana em açúcar, que consistia em moer a cana, ferver o caldo pra resultar na rapadura, usada pra adoçar alimentos. Esse caldo fermentado produzia a bebida, que ainda hoje é tão apreciada e usada para fazer a famosa caipirinha. A origem pode ter vindo da palavra kachasu da língua nhungue que significa aguardente ou machacha, na língua quimbundo, que indica bebida de fabricação caseira.
D - Dengo – Todo mundo gosta de um dengo. E não é pra menos. O sentido dessa palavra é “carinho”; “manha”. O termo vem da língua quicongo ndengo que significa doçura ou o que é macio, sedoso.
E - Engambelar. Ninguém deseja ser engambelado porque ninguém aprecia ser enganado. A palavra vem de “engabelo”, um termo religioso que nomeava uma oferenda de menor valor dada ao orixá até que se pudesse trocá-la por uma de valor real. O termo vem de uyambelo da língua umbundo que indica “oferta ao curandeiro”.
F - Fungar. Quem nunca passou pela experiência de fungar o nariz, especialmente quando chora? Essa palavra vem do quicongo kufuna que também virou cafungar e indica fazer barulho com o nariz.
G - Gingar. Se tem algo que o brasileiro gosta de se orgulhar é o seu gingado. Os africanos não apenas ensinaram essa malemolência como também deram nome a ela. Essa palavra vem do quimbundo junga que significa remexer, bambolear.
H – Hungu. Também conhecido como berimbau. É um instrumento musical utilizado pelos povos bantos como os nyanekas, quibundos, oyambos, khoisan.
I – Inhame. Esse alimento foi trazido pelos africanos e é um dos tubérculos mais nutritivos para incorporar na rotina alimentar. O termo veio do quicongo ñame que significa “para comer”.
J – Jagunço. As novelas regionais sempre têm um jagunço como capataz de algum fazendeiro. O termo pode ter vindo do quimbundo junguzu ou do iorubá jagun-jagun que significa soldado.
L – Lengalenga. Essa palavra para conversa chata, enfadonha foi adotada do termo ndenga-ndenga, que em quicongo tem sentido de lentidão, que não acaba nunca.
M – Macumba. Era o nome de um instrumento musical usado em culto afro-brasileiro. Depois passou a ser utilizado para designar de forma genérica as religiões de matriz africana. Origem no quicongo makumba.
N – Neném. A palavra é tão fofa quanto o bebê que ela designa. Em bundo nene indica pequenino, pedacinho.
O – Omungá. Outro nome dado para o sal. Vem do umbundo omongwa.
P - Paparicar. Quem não gosta de ser paparicado? Essa palavra vem do quicongo papidika e significa mimar ou tratar com carinho excessivo. Pode também ter o sentido de tornar alguém vaidoso, inflar o ego de uma pessoa.
Q – Quitanda. É uma vendinha de pequeno porte onde se encontra produtos frescos como frutas, verduras, etc. A palavra vem do quimbundo kitanda que significa mercado, feira.
R – Ranzinza. Quem nunca se deparou com alguém ranzinza? Esse termo é usado para uma pessoa rabugenta, birrenta. A palavra vem do quicongo nzinzi e indica mosca caseira.
S – Samba. Esse ritmo é a grande herança cultural dos africanos. Ele é considerado a marca registrada do brasileiro. Vem do mesmo termo em quicongo para indicar uma dança e em bundo significava ferver, estar em ebulição.
T – Toca. Muitos animais vivem em toca, em buracos que são sua habitação. A palavra vem do bundo toko.
U – Umbanda. É uma religião de matriz africana que recebeu influências de outras religiões como do cristianismo e espiritismo. O termo é encontrado em umbundo e quimbundo significando a arte do curandeiro, médico tradicional.
V – Vatapá. Essa iguaria trazida pelos africanos foi popularizada pelas baianas. Feito com camarão, peixe desfiado, azeite e pimenta em uma massa de pão amolecido é um alimento obrigatório para todo o turista que visita a Bahia. Seu nome original veio do iorubá ehba-tápa
X – Xingar. Esse termo tão usado para indicar o ato de proferir insultos a alguém veio do quimbundo xinga, que significa ofender, blasfemar.
Z – Zabumba. É um grande tambor, usado para acompanhar vários ritmos como o xote, o baião e o coco. Tanto em quicongo quanto em umbundo, o termo vem de mbumba que indica bater.
“O Brasil não adquiriu apenas novas palavras, mas, juntamente com elas, ganhou também novos elementos culturais que marcam nossa sociedade”, comenta a Doutora em Educação Adriana Dantas em colaboração com a Babbel.
Há 12 anos, Markus Witte (Presidente Executivo do Conselho) e Thomas Holl (CTO) perceberam que não havia como aprender um idioma on-line - um problema que eles decidiram solucionar. Em 2008, criaram então a Babbel.
Hoje, a empresa é formada por 750 profissionais de mais de 60 países, trabalhando na sede, em Berlim, e em Nova Iorque. O aplicativo de idiomas tem milhões de assinantes pagantes.
A equipe didática da Babbel é formada por mais de 150 linguistas – o que torna possível uma abordagem eficiente, baseada em métodos empiricamente comprovados. Pesquisadores da Universidade de Yale, Universidade de Michigan e Universidade da Cidade de Nova Iorque também já comprovaram a eficácia do aplicativo em diferentes estudos.
No Brasil, a empresa atua desde 2014. Hoje, o mercado brasileiro é o principal da América Latina, representando cerca de 50% de todas as assinaturas na região.
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O programa Inclusive é apresentado pela jornalista Rosa Buccino todas as quintas, às 15h, e é disponibilizado no site da Rádio Mega Brasil Online e também no Spotify e, em imagens, na TV Mega Brasil.