Acredito que muitos já estejam familiarizados com a expressão “Mundo BANI”, que tanto tem sido difundida no meio acadêmico e até mesmo nas redes sociais. O acrônimo reflete a realidade da nova sociedade e, em especial, após o início da pandemia: um mundo Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível (em inglês: Brittle, Anxious, Non-Linear e Incomprehensible)
O antropólogo, autor, futurista e criador do conceito, Jamais Cascio, explica que o mundo é frágil por estarmos suscetíveis a catástrofes e eventos imprevisíveis a todo momento (a pandemia por exemplo). A certeza de que os sistemas são frágeis nos levam à ansiedade. As decisões precisam ser tomadas rapidamente, pois qualquer minuto perdido parece nos deixar mais para trás e a diferença entre sucesso e fracasso pode estar no tempo de resposta às fragilidades que enfrentamos. Já a ideia de uma linha do tempo contínua – que nos permite planejar, definir metas e esperar resultados claros, nunca foi tão utópica e nos traz a não linearidade. E, por fim, as certezas estão abaladas frente ao que desconhecemos. É incompreensível. Tudo acontece tão rápido que cada vez fica mais complexo entender o que está acontecendo.
Mas afinal, por que a Comunicação Corporativa é tão decisiva para as empresas no Mundo Bani?
A habilidade do comunicador em compartilhar informações foi posta à prova, com a necessidade de comunicações ainda mais precisas, responsáveis e transparentes em tempo recorde garantindo, por exemplo, que uma crise mundial (como a pandemia) tenha o menor impacto possível à reputação e aos negócios da companhia.
A comunicação como um todo é extremamente estratégica nesse contexto, uma vez que vem se reinventando diante de inúmeras transformações experimentadas na história, além de, em boa parte delas, ter sido ela mesma a própria grande mudança, como o exemplo do rádio, telefone, televisão, internet etc.
O contexto atual, no entanto, apresenta mudanças ainda mais frequentes (se fala em novos ciclos a cada 18 meses), incertas e complexas, tendo como principal componente dessas mudanças a transformação digital. E, se o mundo BANI acelerou ainda mais a transformação, a área que mais rápido vivenciou a necessidade de adaptação foi a de comunicação, com a urgência no aprimoramento de conteúdos e nas suas mais diversas formas de entrega.
No início da pandemia, a comunicação esteve na linha de frente do gerenciamento de uma crise que ninguém imaginava. A prioridade era se comunicar de maneira efetiva e transparente com seus colaboradores, que partiriam para um modelo de trabalho completamente distinto do habitual para muitos. Seja pelo regime de trabalho remoto, ou com inéditos protocolos de segurança para garantir sua saúde. Mais que isso, algumas empresas precisaram gerenciar a crise de uma indesejada e inesperada dispensa de funcionários.
Com o passar dos meses, o papel das comunicações foi sendo expandido no suporte adicional às outras áreas, como a de Recursos Humanos, que passou a lidar com um público esgotado e inseguro. Ou ainda na construção de uma nova narrativa, que deveria ser conduzida pela alta liderança numa tentativa urgente de aproximação (ainda que virtual) das relações interpessoais.
Outro desafio está na interação com clientes e stakeholders. Todas as decisões tomadas diante do novo cenário trariam, em alguma instância, um impacto a esses públicos e a comunicação ágil e personalizada de suas decisões, embora com um nível considerável de incertezas, deveria ser transmitida de maneira transparente, garantindo e reforçando a credibilidade da empresa.
Nos últimos 18 meses, foram muitas as transformações que impactaram as empresas e exigiram novo curso de suas ações, bem como um posicionamento aberto de determinadas questões da sociedade. Como exemplo, posso citar as manifestações de “Black Lives Matter” ou as recentes discussões quanto às urgentes intervenções para o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A comunicação foi vital em todas essas circunstâncias e tem sido estratégica ao explicar as mudanças e os novos comportamentos exigidos para funcionários, clientes, comunidades, influenciadores digitais ou políticos e a outros tantos públicos.
As empresas que melhor estão lidando com esse momento estabeleceram uma relação mais aberta ao diálogo e à troca; ponto levantado por Cascio como uma forma de enfrentar a fragilidade, ansiedade e incompreensão.
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