Todos os jornais não pensam em outra coisa: como enfrentar o mundo digital hoje, como fazer frente a um novo tipo de meio para se chegar ao leitor comum? Mestre Alberto Dines que dirigiu um dos maiores jornais do país, lembrava sempre que o Jornal do Brasil discutia o fim do jornalismo impresso e que, para isso, todos dias os editores daquele jornal diário tinham necessariamente a obrigação de assistir ao Jornal Nacional para ver se eles não estariam repetindo no dia seguinte apenas o que a maior rede de televisão já havia transmitido na noite anterior. Hoje estamos patinando ainda nos velhos problemas que Dines lembrava e contava o que acontecia nos idos dos anos 70 do século passado. O que fazer?
Li recentemente notícia do portal G1 da Globo em que o colega Alessandro Lo-Bianco conta que um jornal comunitário com sotaque “arretado” faz sucesso na maior favela brasileira a ponto de ter chamado a atenção do consulado dos Estados Unidos e isso na Rocinha, no Rio de Janeiro. O jornal é voltado para a comunidade nordestina que acabaram morando naquela comunidade. É o “Fala Roça” que circula a cada dois meses. Moradores da parte mais alta da favela só souberam da morte de um artista plástico querido na comunidade 6 meses depois, graças ao jornal. Uma senhora alemã que visitara a comunidade pelas mãos de uma moradora pediu ajuda para localizar uma moça, Goretti, que havia voltado para o Nordeste sem deixar pista. O jornal estampou uma manchete “Procura-se Goretti”. Uma moradora do Nordeste, que acompanhava o jornal pela internet ligou e passou os contatos.
A ideia de criar o jornal impresso nasceu em 2012, quando a favela recebeu a primeira Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP e, com ela, a Agência de Redes para a Juventude, que trabalha com jovens entre 15 e 29 anos. Moradores receberam estrutura para expressar suas ideias, desenvolver parcerias e montar projetos dentro da comunidade. Ao final do ciclo passaram por uma banca e concorreram a 10 mil Reais em prêmios para investir no projeto. Michel Silva, de 21 anos, juntou amigos e começou a fazer reuniões de pauta em sua casa. O grupo viu que poderiam rodar pelo custo de mil reais, 5.000 exemplares de um jornal. Conta com apoio da PUC-Rio, onde estuda, e foi convidado pelo consulado norte-americano para conhecer as principais redações de Nova York. Michel visitou o The New York Times, a CNN e veículos de menor porte, como a redação de um periódico de Harlem. Constatou que nos Estados Unidos o governo e as empresas privadas investem nos jornais comunitários. O Harlem, que ele visitou, atinge uma tiragem de 50.000 exemplares e funciona numa redação de quatro andares. E esgota a venda de todas as edições.
Voltou para a maior favela do Brasil com mais vontade ainda de apostar no jornalismo comunitário, certo de que é exatamente o modelo para enfrentar e chegar à comunicação do futuro.
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