O mundo corporativo ganhou ao longo dos últimos dois anos desafios que não conseguimos colocar em uma planilha do Excel, em um sistema ou jogar em um dashboard gerencial. Enfim, algo que nos permeia de forma sutil e vai adquirindo espaços não tangíveis, mas perceptíveis na vida, que comprometem os resultados ao longo do tempo.
E todo esse quadro social nos direciona para o desenvolvimento da ansiedade corporativa. Ela é um fato, uma realidade, mas muitos negam a sua existência ou até mesmo racionalizam, enchendo-se de teorias e afazeres para minimizar esta sensação do “E agora? ”.
Estamos todos, uns mais do que os outros, com a sensação que chamo de restituição, cujo sentido, “ao pé da letra”, está no de buscarmos a recompensa de algo que nos foi tirado. Mesmo em cenários positivos e otimistas, onde muitos setores e empresas cresceram na pandemia, o que aconteceu no meu caso e no setor em que atuo, por exemplo, ainda há essa sensação, mesmo que menos latente. Sensação de querer esta “restituição”.
Mas, restituição exatamente do quê? Por quê? Como? Qual o melhor caminho? E se tivermos uma outra intervenção mundial como essa não prevista? São inúmeras as questões que nos rondam nesse mundo cercado pelos efeitos da pandemia e que corroboram para o aumento da ansiedade.
Tudo começa com uma aceleração mental que nos cobra a busca por mais resultados. Sobretudo, agora que tudo parece estar voltando ao “normal”, e esta necessidade imposta por nós mesmo com a auto cobrança - ou por um inconsciente coletivo de que precisamos ter ainda mais resultados - é um ponto de superatenção que quero falar aqui.
O que fazer? E como lidar com tudo isso? É assim que a aceleração mental nos coloca na rotação da ansiedade, mesmo a gente achando que não, mas existe um movimento forte de necessidade de buscar aquilo que nos foi tirado.
Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) mostrou que os casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram, e os de depressão tiveram um crescimento de 90% durante a pandemia. E, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 264 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo, e um a cada 13 indivíduos manifesta sintomas de ansiedade.
Com esses dados alarmantes, observamos que os transtornos mentais estão aumentando e que, mesmo após a pandemia, os números devem continuar crescendo. Por isso, quando falo em buscar o que nos foi tirado não tem a ver necessariamente com os resultados financeiros, mesmo porque muitas empresas e setores cresceram exponencialmente, principalmente os que se adaptaram rapidamente, trazendo soluções aderentes e disruptivas.
A ansiedade que o mundo corporativo tem enfrentado está mais atrelada aos movimentos internos, que estão fora do CNPJ. Mas estão dentro das pessoas que compõem as empresas e que passaram por grandes períodos de incertezas, medos, perdas, luto e uma avalanche de memórias registradas de cenas de hospitais lotados, corpos sendo enterrados em massa, os índices aumentando a cada dia, o Brasil como ponto de alerta mundial, os investimentos caindo, o dólar aumentando absurdamente. Contudo, nesta pressão toda, há um enorme pulso de vida em todos nós para lutar, vencer, inovar e buscar a vacina libertadora deste inimigo invisível e letal.
E dentro desse cenário do “novo normal”, um estudo realizado buscou elencar as principais habilidades do profissional do futuro e, por incrível que pareça, todas elas estão ligadas diretamente a qualidade de nossa estabilidade emocional para lidar com mundo atual frágil, ansioso, não linear e incompreensível.
E quais são as habilidades para ser um profissional do futuro? Ter um pensamento analítico e inovador; estratégias ativas de aprendizado; resolução de problemas; pensamento crítico; criatividade; liderança, entre outras habilidades. É fácil? Lógico que não. Por isso, a ansiedade corporativa marca presença nos mais variados departamentos, hierarquias e segmentos.
Como líder de um time e à frente de uma empresa, tenho o dever de buscar mecanismos para minimizar impactos nos resultados. E como todo e qualquer resultado está atrelado às pessoas, um líder tem que ter este viés como prioridade no seu olhar.
Precisamos olhar e entender como melhorar, mesmo que gradativamente. Tomar consciência deste assunto já é um começo interessante. Quanto mais consciente o mundo corporativo estiver sobre este desafio crescente e silencioso chamado ansiedade, mais mecanismos encontraremos para minimizar seus efeitos.
Neste sentido, saber exatamente quem somos, onde estamos e, principalmente, as metas que teremos que alcançar para chegar aonde queremos nos faz traçar a nossa rota desafiadora pautada em nossas condições e não em uma pilha aleatória. Para isso, alguns indicadores de mercado nos ajudam a estabelecer nossas metas, estudos por segmentos para a definição das nossas projeções de crescimento. Ou seja, sermos ainda mais racionais para entendermos que a sede pela restituição deriva de uma demanda emocional de tudo o que temos passado.
Dentro desse contexto, é necessário entender como melhorar e como trabalhar a ansiedade corporativa, pois ela tem tomado espaço no nosso cotidiano. Canalizá-la nos direciona para uma nova rota e um 2022 mais leve.
Assim, a auto cobrança de sermos extraordinários em tudo, de estarmos sempre disponíveis, tendo que inovar e sermos estratégicos dentro de uma organização, exige muito de nós. Reitero que, quanto mais conscientes estivermos sobre este grande desafio silencioso chamado ansiedade, mais formas encontraremos de reduzir qualquer efeito negativo por ela gerado.
Com isso, é importante priorizar o controle da auto cobrança exagerada, a desaceleração da necessidade de restituição e a prudência com a vitrine virtual. As decisões pautadas em marcadores de mercado, seguindo o nosso baseline, são pontos de atenção para os próximos anos e demandará uma reflexão sobre a ansiedade no mundo corporativo. Para finalizar, acrescento que o amor pelo que se faz, a paixão por empreender e um propósito no trabalho serão sempre a melhor base para enfrentarmos qualquer desafio.
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