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Dia do Meio Ambiente: Reciclagem de roupa precisa entrar na pauta da indústria da Moda

Confira o mais recente artigo assinado por Karen Hofstetter, fundadora da Nama, no qual a autora discorre sobre a importância de se incluir a questão da reciclagem de roupas – e o papel das empresas nesse sentido – como um assunto a ser discutido dentro da indústria da Moda

Cada vez que o frio se aproxima, como agora no Brasil, ou em outras campanhas de solidariedade, as pessoas se mobilizam para fazer doações e tiram do armário peças que não usam mais. Mas nem sempre elas estão em boas condições de uso e acabam sendo descartadas. 

O problema vai muito além do consumidor como indivíduo, pois mesmo quando doadas para igrejas e organizações, muitas vezes as próprias instituições que recebem as roupas não possuem a logística necessária para distribuição - e as peças acabam em aterros ou, pior, em um dos 3 mil lixões que ainda estão em atividade no Brasil. Outras vezes são incineradas, como ocorreu neste ano após as chuvas em Petrópolis.

Esse é um lado nada bonito da Moda que causa espanto, estrago e quase ninguém vê, mas está muito próximo de todos nós: consumidores e empresas.

Em lixões e aterros, os tecidos descartados causam instabilidade no solo, demoram muito a se decompor e liberam micro partículas poluentes. Quando incinerados, produzem gases tóxicos, que contribuem para o aquecimento da atmosfera. 

Reportagens recentes demonstraram que a América Latina é destino de descarte têxtil mundial. O Deserto do Atacama, no Chile, abriga uma verdadeira montanha de roupas inutilizadas, que cresce a uma velocidade de 40 mil toneladas todos os anos.

É uma imagem tão impressionante que eu e a equipe da Nama nos inspiramos nela quando fomos convidadas para apoiar a Malwee na estratégia e comunicação do lançamento do Des.a.fio - primeiro moletom da marca feito a partir de roupas recicladas.

Esse é um marco para a indústria da Moda Nacional, pois a tecnologia desenvolvida em parceria com a Eurofios dá um passo à frente em direção às soluções focadas na Economia Circular.

Se de um lado as grandes indústrias têm a responsabilidade de investir em tecnologia e soluções para prolongar o ciclo de vida dos produtos e diminuir o impacto no meio ambiente, do outro é preciso sensibilizar a sociedade para o problema do descarte têxtil. 

Eu acredito na comunicação que conscientiza, que inclui, que educa - que tenha alcance social e foco no impacto positivo. 

Neste projeto, a Nama convidou as consultorias Think Eva e Marina Colerato e criou a ação “O lixo nunca deve ser o destino da sua roupa”, realizando uma intervenção na Avenida Paulista e convidando os consumidores a levarem peças de roupas usadas para ganharem o moletom reciclado. 

O intuito foi chamar a atenção para a urgência de se pensar ações para a diminuir o impacto ambiental negativo causado, em parte, pela indústria da moda, em parte, pelo descarte incorreto do consumidor. 

Nas últimas décadas, o comportamento de consumo se transformou, as roupas se tornaram mais acessíveis e cada peça é utilizada pela metade do tempo que costumava durar 15 anos atrás, segundo dados da McKinsey. Esse é um fenômeno mundial.

O que fazer com o que não usamos mais é um desafio em toda parte e, particularmente, no Brasil, onde apenas 3% do resíduo sólido coletado no país é reciclado, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe)

Ainda assim, já faz parte da vida de muita gente o hábito de separar determinados materiais, como papel, plástico, vidro e alumínio. O vestuário, entretanto, ainda não entrou nessa dinâmica. 

Por isso, estamos também incluindo o consumidor na conversa. Ele é parte fundamental no debate sobre Moda Circular, e a reciclagem têxtil precisa entrar na moda com urgência.

Autor: 204