Um debate tende a ser um momento em que os nervos estão à flor da pele e que, por diversas vezes, acaba culminando em ofensas e inimizades. No entanto, um debate também pode ser uma oportunidade de adquirir conhecimento, através do diálogo e da argumentação de maneira civilizada e organizada. Por isso, é importante analisar os melhores momentos para debater; não existe necessidade de participar de um debate infrutífero. Para se ter ideia, uma pesquisa deste ano do BTG indicou que 53% dos eleitores acreditam que não faz diferença se um candidato comparece ou não aos debates eleitorais.
Esse número é fruto de uma crescente descrença no poder dos debates. Segundo Maytê Carvalho, escritora, professora, comunicóloga e autora do livro "Ouse Argumentar: Comunicação assertiva para sua voz ser ouvida", ”Num mundo ideal, nós conseguimos dialogar com pessoas de sentimentos e ideias dos mais diversos. Seria possível abrir campos de discussão com qualquer um, sem treta, sem xingamento, sem falácia, sem se sentir ameaçada. O problema é que a realidade é muito mais complicada, e há brigas que não cabem a nós – porque, como vimos no capítulo anterior, estabelecer limites é essencial para ousar argumentar”, relata.
Erros gerados por falhas na comunicação percorrem a história, mostrando a atemporalidade da importância de uma boa forma de se comunicar. “Conta-se que Cassandra, filha de Príamo, o Rei de Tróia, após um desentendimento com o Deus Apolo, foi amaldiçoada: ninguém nunca mais iria entender o que ela dizia, sendo condenada a ser vista como louca. Por isso, quando ela passou a avisar ao seu pai e irmão, Heitor, que Tróia estava condenada à destruição, ninguém deu ouvidos – porque ninguém a entendeu. Muitas vezes, no processo de comunicação, nos sentimos verdadeiras ‘Cassandras’. Até sabemos usar a nossa voz, mas falamos A e o povo entende B”, conta a comunicóloga.
Quando não debater
Em meio a tamanha crise do diálogo, entender os momentos certos de entrar em debates é essencial; embora seja importante ter sua voz ouvida, em um mundo cada vez mais polarizado é importante saber “comprar as brigas” certas. “Nem sempre a gente tem uma opinião formada sobre um assunto, porque nem sempre sabemos sobre o que está sendo discutido. Eu sei muitas coisas, mas principalmente sei que não sei tantas outras”, explica Maytê.
Por isso, é importante compreender que não podemos saber de tudo e reconhecer as próprias vulnerabilidades. “Essa dificuldade é resultado da vulnerabilidade – uma palavra da moda, hype nos documentários da Netflix, em palestras corporativas, em livros best-seller. É tão lindo ler que ‘é preciso transformar vulnerabilidade em potência’”. Tão lindo quanto difícil de pôr em prática”, mostra a escritora.
Existem, também, pessoas com quem não se deve debater. Os debates devem ter o objetivo de adquirir conhecimento ou chegar a alguma conclusão; um debate sem propósito essencialmente não tem utilidade. “Com quem não estiver disposto a escutar. A argumentação não é um jogo de comparação. Relações são uma profunda exploração e expressão de nós mesmos e um convite para que outros possam fazer o mesmo conosco. Esperar que o outro viva, pense, experimente e seja da mesma maneira que nós, ou de quem está no nosso entorno imediato, é desastroso, porque não dá espaço para que os outros se mostrem, se revelem, surpreendam e nos toquem”, indica.
Para isso, é importante identificar os diferentes tipos de perfis em um debate. “Adam Grant separou os debatedores em 5 categorias: o ‘Cientista’, que é considerado o melhor estilo de debatedor, parte do princípio de que pode estar errado e busca conhecimento com o debate; o ‘Pensador Crítico’, que procura os diferentes pontos de vista em um tema, depois disso cria sua opinião; o ‘Do Contra’, que sempre procura falhas e brechas na argumentação do outro; o ‘Político’, que apoia incondicionalmente sua visão e ataca os demais que discordam; por fim, temos o ‘Líder de Culto’, que acredita na verdade absoluta de seu lado, apelando algumas vezes para o divino”, enumera.
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