Marina Lima, Patrícia Salvatori, Eliane De Mitry e Clara Bicalho.
Diversidade, Equidade e Inclusão. Três valores que, cada vez mais, precisam estar no centro das empresas, que moldam a reputação das organizações, que definem suas missões e seus legados e, portanto, são imprescindíveis para avaliar o impacto.
Nunca antes se viu as corporações falando tanto sobre essas questões como agora. E são vários os fatores que influenciam essas tendências, mas, principalmente, volta-se a atenção para o aumento dos movimentos sociais e das ofertas de recursos ESG que vêm definindo abertamente as estratégias corporativas de Diversidade e Inclusão, destacando os benefícios sociais e os resultados financeiros.
Investir em Diversidade, Equidade e Inclusão é investir em um ambiente que respeita e valoriza as diferenças individuais em toda e qualquer dimensão. Segundo a coalizão D5 e a Universidade de Berkeley, na Califórnia, o conceito de Diversidade compreende todas as maneiras pelas quais as pessoas diferem, levando em conta as diferentes características que tornam um indivíduo ou grupo diferente de outro. Além disso, é importante ressaltar que, embora a Diversidade seja frequentemente associada à raça, etnia e gênero, ela possui um sentido mais amplo, englobando questões como idade, nacionalidade, religião, orientação sexual, status econômico, educação, estado civil, idioma, aparência física e, principalmente, deficiência – funcional e intelectual.
Atualmente, existem no Brasil mais de 17,3 milhões de pessoas acima de dois anos com deficiências visuais, motoras, intelectuais e múltiplas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que corresponde a 8,4% da população. Entretanto, do número citado acima, somente 28,3% delas, com idade para trabalhar, estão inseridas no mercado de trabalho, número que reflete que muitas pessoas só conseguem fazer valer os seus direitos quando respaldadas pela lei; caso contrário, muitas garantias não são percebidas, o que faz com que seja preciso estabelecer normas para que essa parcela da população tenha participação ativa na sociedade.
Diante disso, em 2015, foi criada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146) – mais conhecida como a Lei Brasileira da Inclusão Social (LBI) – a qual assegura e promove, em caráter de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades da pessoa com deficiência, tendo em vista a inclusão social e a cidadania.
Em sentido amplo, as empresas devem ajudar a sociedade e, como tal, devem ser diversificadas, inclusivas e equitativas. Contudo, por mais que a organização esteja atenta às necessidades de inclusão de pessoas com deficiência, essa não é uma tarefa fácil. Diante disso, é primordial a promoção da autonomia de PCDs e o investimento em infraestrutura adequada para que a inclusão, de fato, aconteça.
Muito além da necessidade de cumprir as legislações, as corporações devem se atentar ao compromisso social e fazer mais do que apenas manda a lei. Um ambiente corporativo diverso e compatível com o que há na sociedade é positivo, inclusive, para a geração de valor da marca, o que a torna mais competitiva no mercado. Um futuro melhor é um futuro mais diverso, inclusivo e equitativo, e, principalmente, resultado do que investimos hoje. A construção de um ecossistema eficaz para negócios ESG é um esforço em conjunto global que certamente contribui para esse futuro.
O Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas de 2023 considera de extrema importância a discussão do tema, principalmente no âmbito corporativo, e, por conta disso, trouxe para a sua 26ª edição um painel dedicado exclusivamente ao assunto. Sob o tema “Diversidade / Equidade / Inclusão”, o painel busca jogar uma luz sobre os invisíveis, mostrando o papel das empresas no resgate da cidadania das pessoas com deficiências funcionais e intelectuais.
E para falar sobre o assunto, o painel contou com as presenças de Clara Bicalho, Especialista em Diversidade e Inclusão na MRV; Eliane De Mitry, Gerente de Recursos Humanos na SAP; e Marina Lima, HR Business Partner na Dow. A mediação foi por conta de Patricia Salvatori, fundadora da Mundo im.Perfeito e da Rede Mães Atípicas.
O painel começou com as palestrantes fazendo suas autodescrições, que se trata de um recurso de acessibilidade que permite que pessoas com deficiências visuais ou intelectuais possam compreender o que está sendo visto. Na autodescrição, características físicas, comportamentais, hábitos ou outras informações podem ser utilizadas.
Clara Bicalho, que iniciou as apresentações, contou um pouco sobre o papel da MRV na integração de funcionários com Síndrome de Down e conta que as mudanças na política de contratação na empresa aconteceram por conta da necessidade de reconhecer essas pessoas e incluí-las verdadeiramente. “Mudar por mudar, não era interessante. A gente queria que essa mudança fosse genuína.”, afirmou Bicalho.
Pegando carona no depoimento, Eliane De Mitry falou sobre o projeto da SAP, Autism at Work, que tem como objetivo incluir pessoas que estão dentro do espectro autista na empresa. Além disso, Eliane comenta sobre reconhecer as necessidades de cada indivíduo e afirma que, a inclusão também está em enxergar as pessoas além de suas dificuldades ou deficiências. “Tenho que levar em consideração a potencialidade de cada pessoa e como eu vou acessar essa potencialidade”.
Marina Lima começou sua apresentação falando sobre os principais desafios na inclusão de pessoas com deficiência no quadro de funcionários, sendo o maior deles o capacitismo. Segundo Lima, a complexidade de se tratar o capacitismo se deve a questão ser tão enraizada e naturalizada. “O capacitismo é um desafio porque na maioria das vezes vem de uma boa intenção. É mais difícil de identificar porque está muito enraizado e as pessoas não veem como algo negativo”, afirmou a HR Business Partner da Dow.
Algo que todas as palestrantes e Patrícia Salvatori, mediadora do painel, reforçaram foi a importância da implementação de acessibilidade, não somente arquitetônica, com rampas de acesso e piso tátil, mas intelectual também, e o incentivo para que pessoas com deficiência estejam presentes em todos os níveis hierárquicos das empresas.
A 26ª edição do Congresso Mega Brasil tem como tema central “A comunicação e o legado que as corporações deixam para o futuro do planeta e das novas gerações”. O evento acontece nos dias 30 e 31 de agosto e 01 de setembro, na Unibes Cultural, em São Paulo.