Filólogo e pedagogo, professor há 57 anos e dando curso à distância, com 47 mil alunos em um deles, Moacir Gadotti é um daqueles escolhidos por Paulo Freire para dar continuidade à sua obra. Uma vez perguntaram a Paulo Freire com que escola ele sonhava e ele respondeu “uma escola de companheirismo, que divide o pão, em que as pessoas se amem, uma escola de comunidade, que vive a experiência de democracia”. Em 1962 Paulo Freire usava o rádio e a máquina de slides que havia importado da Polônia porque não tinha ninguém que fabricasse aqui no Brasil. Usava a tecnologia, sempre uniu a ideia da tecnologia com o humanismo.
Hoje, diz Gadotti em entrevista à revista E distribuída na rede Sesc, a Unesco tem diretrizes políticas para a aprendizagem móvel, mostrando que o celular é fundamental. Conta que os educadores pesquisam o WhatsApp, muito usado no ensino superior porque nele formam-se grupos de discussão. Acha que demoramos muito para incorporar as tecnologias. Aprender pela experiência, pelo fazer. Os pioneiros da Educação Nova tinham o projeto de sociedade aberta e de um desenvolvimento naquela época de transformação de uma sociedade rural oligárquica para uma sociedade democrática.
Aluno de Jean Piaget, um dos mais importantes pensadores do século XX, conta que o suíço reclamava dos americanos que faziam experiência por vídeo e não presencialmente, pelas próprias mãos dos alunos, dizia que o olhar e a presença eram insubstituíveis. Gadotti acha que a educação à distância tem de ser reinventada, da mesma forma que a educação presencial inventada no sentido de dar mais autonomia para o aluno, e que o professor seja um organizador da aprendizagem, não um lecionador, porque isso afasta muita gente da escola. Afasta porque o professor vai despejando matéria quando, na verdade, ele tem de atender às dificuldades dos alunos, como um organizador da aprendizagem deste aluno.
Em Genebra certa vez Piaget perguntou aos alunos por que alguém aprende? O primeiro grupo disse que só se aprende quando se sente prazer em aprender. Ou seja, a escola tem de ser divertida e propor ações fluidas. O segundo grupo disse que só se aprende quando se deseja, ou seja, se o desejo é grande, o ensino não precisa ser necessariamente prazeroso. Já o terceiro grupo disse que só se aprende quando se tem necessidade, nem por prazer, nem por desejo, mas por necessidade. É isso.
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