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Da esquerda para a direita: os moradores do Arsenal Kenny Coutinho, Leonardo de Oliveira, Fanuel Abreu, Wagner Moraes, João Fernandes; e o artista Geraldo Lacerdine
O Arsenal da Esperança, que acolhe diariamente 1.200 homens em vulnerabilidade social, anunciou as datas do espetáculo de Natal com atuação dos moradores vindos de situação de rua. As apresentações serão de 19 a 21/12, às 20h00 no Arsenal; e dia 22/12, às 20h00, no Teatro Itália. A entrada: 2kg de alimento não perecível.
Falasartes e a máquina dos sonhos tem roteiro e direção do artista Geraldo Lacerdine e participação de músicos renomados: Cleber Silveira, especialista em acordeom, do programa ‘Viola, Minha Viola’/TV Cultura; Rafael Mota, especialista em percussão, conhecido por suas apresentações no Sesc; e Paulo Ribeiro, especialista em viola caipira e violão popular; e os artistas circenses Lucas Faruk, acrobata de solo e aéreo, e Lucas Lopes, malabarista; além da bailarina Nuria Della Volpe.
“Preciso mudar a minha vida e essas atividades de teatro estão me ajudando muito”, diz Leonardo de Oliveira Santos, de 38 anos, um dos oito acolhidos pelo Arsenal, que participam das Oficinas de Teatro. Conforme ele mesmo diz “está há 302 dias morando na Casa”. A contagem dos dias é proposital. Filho adotivo, com pais falecidos e sem contato com sua única irmã, Santos mora em situação de rua desde os 19 anos. “Morava na Praça da Sé e o que me atraiu para o Arsenal foi a Biblioteca, leio muito. Na rua a gente tem que vencer a loucura, a solidão e os julgamentos dos outros. Mas também se aprende bastante”. Santos conta que viveu na Cracolândia, brigava nas ruas e traficava. “O que me tirou do tráfico foi a morte de um amigo, que vivia como eu”. No tempo em que está no Arsenal, os dias contados são para lembrar o esforço que faz para se afastar das drogas. Seu sonho é morar em uma casa perto do mar.
Em Falasartes e a Máquina dos Sonhos, os protagonistas são Falasartes, um palhaço meio místico e Josefina, a máquina dos sonhos, uma kombi azul que tem como combustível a luz das estrelas. Juntos, eles conversam com as pessoas sobre seus sonhos mais profundos e a viabilidade para realizá-los. A peça busca promover uma conexão com a plateia, intercalando histórias e canções, nacionais (do cancioneiro popular brasileiro) e internacionais, como as italianas Volare (Domenico Modugno e Franco Migliacci) e Il Mondo (Jimmy Fontana). O espetáculo é baseado nas apresentações interativas inglesas de palco de arena de William Shakespeare. Com 1 hora de duração, no Arsenal será encenado em uma tenda, no pátio com palco circular e capacidade para 500 pessoas.
Para o desenvolvimento do projeto com a população em situação de rua, estão sendo realizadas oficinas de teatro e música que antecedem a apresentação. As próximas Oficinas de Teatro com moradores em situação de rua, em dezembro, serão:
Padre Simone Bernardi, Missionário da Fraternidade da Esperança do SERMIG (Serviço Missionário Jovens), que dirige o Arsenal da Esperança afirma: "O Arsenal acolhe pessoas de qualquer origem, religião, cultura e situação social e por isso é uma ponte entre mundos aparentemente diferentes e distantes entre si”. Bernardi explica a proposta do projeto. “A intenção de promover um espetáculo de Natal dentro e fora do Arsenal é para que mais pessoas possam conhecer o nosso trabalho e será uma oportunidade para construir novas pontes e oferecer beleza, através da arte, à sociedade”, completa.
Para o artista Geraldo Lacerdine, o espetáculo tem muita interação. “Este projeto artístico também tem a intenção de levantar o tema da população em situação de rua, que é vista com muito preconceito pelas pessoas da capital paulista. No entanto, são pessoas com histórias e situações diversas, alguns perderam suas casas ou vieram de outros estados à procura de trabalho”.
Os números estimados da população em situação de rua são de 232.147 pessoas (IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada/2021). Dados atuais levantados pelo Arsenal da Esperança mostram, por exemplo, que aproximadamente 20% dos que procuram a casa tem Ensino Médio completo; e que apenas 1,5% são analfabetos. Os que se declaram dependentes químicos giram em torno de 35%. As informações revelam, ainda, que a maioria, 47%, tem idade entre 41 e 59 anos; 37% de 26 a 40 anos; e o restante se divide entre 18 e 25 anos e acima de 60 anos. E ainda: que a grande maioria é do Sudeste (55%); mas que uma parcela significativa veio do Nordeste (27%). Os demais são do Sul (6%), Centro-Oeste (2%), Norte (3%), além de Imigrantes (3%).
Localizado nas instalações históricas da antiga Hospedaria de Imigrantes da cidade de São Paulo, o Arsenal da Esperança vem desenvolvendo, desde 1996, um trabalho intenso de acolhimento por onde já passaram 73 mil homens em situação de rua. Além da preocupação com um acolhimento digno de alimentação, moradia e recursos humanos, a casa promove uma gama de atividades para o desenvolvimento pessoal e construção da autoestima.