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A Inteligência Artificial não substitui a essência humana

Confira o artigo assinado por Evandro Aléssio, Tenente-Coronel do Quadro de Saúde da Força Aérea Brasileira, no qual o autor reflete sobre a utilização de Inteligência Artificial na produção artística e, principalmente, na escrita literária, ponderando o valor da visão humana no processo criativo e a importância das imperfeições na arte

Você vai a uma exposição de arte e lá encontra uma pintura fabulosa, cujo artista demorou longos anos para terminá-la. Ao lado desta obra, uma pintura, igualmente linda, cujo resultado foi obtido por uma codificação textual oferecida à Inteligência Artificial e cuja impressão foi feita em pouco mais de cinco minutos. Para você, ambas as obras deveriam ter valores semelhantes?

Leonardo da Vinci demorou cerca de quatro anos para finalizar sua “Monalisa”. Michelângelo, quarenta anos até que desse por terminado a escultura de “Moisés”, e ainda mais três anos de trabalho contínuo para que “David” estivesse pronto. O que esses dois artistas tinham em comum? A resposta é quase óbvia: uma eterna busca pela perfeição.

Assistir a essa busca entre os humanos é quase que uma obsessão de nós, simples mortais. É assim no futebol, numa corrida de automóveis ou quando encontramos uma história que nos dá a sensação de ter valido a pena o esforço de estar na plateia. Mas e se os jogadores fossem robôs? E se os carros de corrida não precisassem de pilotos? Será que sentiríamos a mesma emoção? Vibraríamos da mesma forma com a vitória do nosso time de coração? Choraríamos com “tema da vitória” que nos motivava a acordar mais cedo nas manhãs de domingo?

E se o livro que você comprar tivesse sido escrito por um software de ajuntamento de palavras? Um ajuntamento que até fizesse sentido, mas você gostaria de dedicar horas ou dias de leitura para tentar descobrir quem a Inteligência Artificial (I.A.) escolheu para ser o vilão ou o herói?

Foi pensando nessa enormidade de questões que decidi estampar no meu mais recente livro “A menina e o trem”, um selo que mostra a não utilização da I.A, com a frase “100% escrita criativa humana”, na contracapa. A ideia é dar ao futuro leitor uma informação que ele vai querer saber a partir de agora.

Não sou contra a Inteligência Artificial, muito pelo contrário. Mas há lugares que, a meu ver, ela não deveria entrar, sob o risco de nos tornarmos cada vez menos humanos. Não quero ser influenciado por robôs, não quero chorar por histórias perfeitas escritas em um minuto.

Demorei cerca de 16 anos desde a concepção à finalização deste meu livro. Foram mais de dez mil horas de dedicação, afastamento de amigos e família, madrugadas a fio para conseguir terminá-lo. Entrevistei inúmeras pessoas, visitei cenários, gravei mais de mil áudios de ajustes e inspirações. Sorria e chorava em várias passagens que escrevia. Busquei a perfeição e sei que não a encontrei, mas dei o melhor de mim. Mas de que adiantaria buscá-la se soubesse que, em um minuto, ela poderia estar pronta à minha frente? Qual estímulo daremos aos humanos se dissermos que o melhor do futuro não será feito por eles? Não vou me emocionar se um robô disser que me ama.

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