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Seis propostas para entrar no milênio

Carlos Henrique Carvalho é presidente executivo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom)

Em 1984, o escritor Italo Calvino foi convidado pela Universidade de Harvard a fazer uma série de seis conferências para seus alunos. Calvino batizou os textos de Seis propostas para o próximo milênio e discorreu sobre o que considerava qualidades fundamentais que deveriam ser preservadas na literatura: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade. Consistência seria o sexto tema, mas esse texto nunca chegou a ser escrito, pois o italiano morreu pouco antes da data marcada para o início das conferências.

E o que tudo isso tem a ver com Comunicação Corporativa? De uma certa maneira, nada. Mas, como coautor do blog Lombada Quadrada (www.lombadaquadrada.com), dedicado à literatura, acredito que os livros, especialmente os romances e ensaios, têm muito a ensinar para o universo corporativo. Se atentarmos para os temas propostos por Calvino, saberemos que leveza nos textos e nas abordagens dos problemas de comunicação de uma organização são fundamentais. Rapidez e exatidão são qualidades máximas para o gerenciamento de uma crise. Visibilidade e multiplicidade fazem parte das exigências de transparência a que empresas e governos estão cada vez mais obrigados. E consistência é tudo o que se espera de uma marca, de um produto e das narrativas que as organizações oferecem a seus públicos estratégicos.

E é pensando nessa estrutura imaginada por Calvino para falar do novo milênio que me proponho aqui a apontar o que acredito sejam seis propostas para que as agências de comunicação e seus profissionais entrem de vez neste novo milênio, que já avança para a sua terceira década. Vivemos uma fase de grandes e impactantes transformações no modo de fazer comunicação. E entendo que parcela importante do mercado ainda está ancorada no século XX. É preciso renovar práticas, atualizar conceitos e entender os movimentos que afetam diretamente o trabalho de agências e profissionais do setor. Seguem as propostas.

Diversificação de serviços: a Abracom bate nessa tecla há pelo menos uma década. Precisamos ir muito além da assessoria de imprensa para entregar aos clientes aquilo que talvez nem mesmo eles saibam que procuram. Esse é um grande dilema para muitas empresas que têm sua estrutura de negócios e seu discurso de venda voltados para a expertise em relacionamento com a mídia. É uma armadilha que está fazendo muitas vítimas. Com cada vez menos espaços editoriais disponíveis, é preciso adotar de vez o conceito amplo de relações públicas, ou internacionalmente PR, e mostrar para quem contrata a sua agência a capacidade de gerar relacionamento com todos os públicos, por todos os meios disponíveis.

Multidisciplinaridade: um mercado que por muito tempo contratou basicamente jornalistas precisa reinventar a composição de suas equipes de trabalho. É preciso ampliar as fronteiras de conhecimento embarcadas na agência, agregando gente do mundo da tecnologia, das finanças, do direito e de uma infinidade de outras formações e histórias profissionais. Sim, é para fazer comunicação. Mas é importante entender que a comunicação caminha a passos rápidos para se convergir com gestão, tecnologia e negócios.

Entender de negócios: comunicação não é uma atividade meramente técnica. Necessitamos de profissionais habilitados para escrever, produzir vídeos, lidar com conteúdo em diversas plataformas, é claro. Mas se você vai trabalhar para uma indústria química, por exemplo, precisa entender tudo o que envolve esse mercado. É preciso lidar com números, orçamento, finanças. Se possível, entender mais do negócio de seu cliente que ele próprio.

Tecnologia em cena: a Inteligência Artificial está batendo à porta de sua agência. Mergulhar no mundo das exatas, fazer alianças com pesquisadores e estudiosos de AI, entender como os robôs e sensores serão cada vez mais imprescindíveis para definir estratégias de relacionamento e vendas são caminhos sem volta no mundo da comunicação. Dispa-se dos preconceitos contra a matemática e a computação. E não perca seu lugar no futuro.

Diversidade: reações conservadoras à parte, o mundo dos relacionamentos e do consumo está totalmente conectado à ideia de diversidade étnica, de gênero, sexual e cobrando a inclusão das minorias na narrativa dos produtos e serviços. Praticar a diversidade dentro da agência e também nas propostas de comunicação é um caminho para evitar crises e entrar de vez neste milênio.

Compliance e integridade: não dá mais para fazer vistas grossas à necessidade de ter uma política clara de integridade dentro de sua agência. Não importa o tamanho. Mapear riscos, banir os conflitos de interesse e afastar velhas práticas do passado. Sua empresa será cobrada pelos clientes e a adoção de políticas claras e efetivas de compliance passará a ser um item decisivo para ganhar novas contas. Sem contar que a comunicação também tem um papel importante na difusão dos programas de integridade dentro das organizações. Além de uma obrigação, o tema rende oportunidades de negócios.

Estas são as minhas singelas propostas, recolhidas da observação do que acontece com o mercado. Há muito o que debater. E não faltarão oportunidades na programação de atividades que a Abracom prepara para os próximos meses. Acompanhem nossos canais nas redes sociais e nosso site. Esperamos por vocês.

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