Por Larissa Sugiyama
12 de Novembro de 2024 | 17h00
Divulgação
O "CARDE" traz uma forma única de contar os fatos históricos, já que muitos dos automóveis ali apresentados são muito mais que produtos para mobilidade — eles se tornaram parte da trajetória do nosso País.
No meio de uma floresta preservada de araucárias na cidade de Campos do Jordão, a 170 quilômetros de São Paulo, o CARDE surge como um espaço dedicado à valorização da cultura e da história do Brasil, principalmente a do século 20, utilizando o automóvel como personagem principal. O museu traz uma forma única de contar os fatos históricos, já que muitos dos automóveis ali apresentados são muito mais que produtos para mobilidade — eles se tornaram parte da trajetória do nosso País. Serão aproximadamente 100 veículos, expostos de forma rotativa, selecionados de acervos técnicos que conta com mais de 500 automóveis históricos.
Carro, Arte, Design e Educação não só emprestaram suas iniciais para formar o acrônimo “CARDE”, mas também são os pilares que representam o que esse museu genuinamente é. O prédio, de 6 mil m², construído em um terreno de 200 mil m² no bairro Alto da Boa Vista, a 10 minutos do centro de Campos do Jordão, conta com iluminação teatral, cenografia rica em detalhes e muita tecnologia.
Cada sala tem painéis de LED de alta definição para vídeos históricos e artísticos e sistema de som 5.1, de maneira a tornar a experiência sensorial única. Os ambientes contam com um sistema de luz e som com trilhas sonoras sincronizadas com os vídeos, produzidos com o auxílio da computação gráfica a partir de uma pesquisa histórica profunda. Monitores touchscreen complementam o conteúdo em diversas áreas.
Serão ambientes imersivos, divididos de acordo com as décadas dos anos 1900, com fatos e histórias marcantes. Cada ambiente foi montado a partir de detalhado estudo histórico para somar referências de época. O “CARDE” conta com centenas de obras de arte espalhadas pelo museu, entre quadros, gravuras, joias e esculturas, de artistas como Candido Portinari, Di Cavalcanti, José Zanine Caldas, Frans Krajcberg, Vik Muniz, Oswaldo Teixeira, Djanira da Motta e Silva, Agostinho Batista de Freitas, Heitor dos Prazeres, José Antônio da Silva, Niccolò Frangipane, Yutaka Toyota, entre outros, que auxiliam na construção de uma visão clara sobre cada momento de nossa sociedade no século 20. Essa combinação harmoniosa de objetos artesanais e tecnologia tem como fio condutor o item de grande apelo afetivo que faz parte da vida das pessoas: o automóvel.
A partir de uma visão inédita, no térreo, são nove salas temáticas, entre elas, a de “Carros Governamentais”, da “História do Automobilismo Brasileiro” e de “Visionários Brasileiros”, incluindo João do Amaral Gurgel e seus carros revolucionários para a época.
Na entrada, uma “câmara de descompressão” prepara o visitante para aguçar a análise crítica e se abrir às percepções. O saguão de entrada já quebra qualquer expectativa de um museu meramente automobilístico e define a proposta inovadora do “CARDE”. A experiência começa por meio de um cenário onde um dos automóveis brasileiros mais raros, o Brasinca Uirapuru (1964), surge adornado com uma pintura indígena no topo de um cajueiro em metal, com folhagens de crochê. A trama de fios coloridos cobre todas as paredes do salão.
A grande colcha foi produzida por 200 mulheres do projeto social Instituto Proeza, da Capital Federal. O trabalho das crocheteiras abraça pinturas e outras obras de povos originários dos estados do Ceará e Amapá. A instalação servirá para sensibilizar o público com o posicionamento do museu, que apresenta o passado, com um olhar à sustentabilidade e à preservação do planeta.
O objetivo de recuperar a história do Brasil também está intrínseco em cada detalhe, como no acervo privado de Emanoel Araújo, uma das figuras mais importantes do cenário artístico e cultural do País. Sua coleção afro-brasileira, adquirida em sua totalidade em 2023, sintetiza a diversidade e a origem do nosso povo e destacam a importância da inclusão e valorização das diferentes culturas, conectando a Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA) à sociedade atual. Um dos destaques é a coleção com as “joias crioulas”, peças de joalheria que surgiram no Brasil entre os séculos XVIII e XIX, especialmente durante o período colonial e imperial, e estão profundamente ligadas à cultura afro-brasileira. Essas joias eram usadas principalmente por mulheres negras e escravizadas e são um rico testemunho das origens do design brasileiro.
“Fizemos o ‘CARDE’ com carinho e o máximo direcionamento para a qualidade tanto da informação a ser compartilhada, quanto à riqueza na contextualização dos objetos em exposição. Foi feita uma curadoria meticulosa em todos os sentidos. No caso do acervo de automóveis, a meta foi chegar a um alto nível de originalidade e representatividade histórica. E conseguimos. Com o ‘CARDE’, queremos que objetos que muitas vezes estão distantes de grande parte da população, como o automóvel raro, a obra de arte e até mesmo a história, agora estejam acessíveis”, afirma Luiz Goshima, idealizador do projeto e Diretor-Executivo do museu, que também atua como Conselheiro e Membro Honorário da Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA).
O “CARDE” é uma evolução do pilar de educação da Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA) e representa sua abertura para toda a população brasileira e mundial. Neste ano, a instituição independente e sem fins lucrativos completou 16 anos de atuação em arte, cultura, educação, saúde e desenvolvimento social em Campos do Jordão (SP). São mais de 700 alunos, entre crianças e adolescentes, beneficiados por cursos artísticos profissionais através dos Núcleos de Dança, Música e Teatro, que se tornam a porta de entrada para um mundo de oportunidades e possibilidades. A FLMA também conta com o Núcleo de Saúde, gerido em parceria com o Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, que atende de forma gratuita os alunos, familiares e colaboradores, com mais de 100 mil consultas, procedimentos e exames anualmente, além do inédito tratamento de hemodiálise no município. E atende também a população do município por meio de parceria com a prefeitura municipal.
Salas temáticas no térreo, divididas por períodos e fatos especiais
As salas do andar térreo são divididas em períodos históricos, nas quais os automóveis se misturam com os acontecimentos de cada período. Nessa narrativa, os objetos ajudam os visitantes a imergirem nos fatos históricos surpreendentes. O museu contou com a consultoria de história da professora Heloísa Starling e do Projeto República da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para selecionar os fatos históricos mais relevantes do nosso País e do mundo, que também mostram os movimentos e lutas que aconteceram em busca da democracia e do desenvolvimento social em cada período.
Entre os destaques está a sala "Uma grande história de amor", sobre o relacionamento de Henrique Lage e Gabriella Besanzoni. O cenário do romance foi monumental: o Palacete do Parque Lage, no Rio de Janeiro, retratado na cenografia desse requintado espaço no “CARDE”. Nos anos de 1920, o empresário bem-sucedido Henrique Lage remodelou essa construção existente para transformá-la em um palácio para sua amada esposa, a cantora lírica Gabriella Besanzoni. Além do palácio, mais um presente foi especial preparado para agradar a amada: um Isotta Fraschini, importado da Europa, um dos carros mais luxuosos do mundo à época, com detalhes exclusivos. A unidade em exposição possui o número de identificação #810. Finalizada em 1925, ostenta desenho exclusivo assinado pela Carrozzeria Castagna, prestigiada encarroçadora milanesa. Uma verdadeira joia sobre quatro rodas.
Outro modelo do “CARDE” que é um personagem da história é o Lincoln K, de 1938. O automóvel conta com carroceria especial Willoughby, de Utica, Nova York. Somente cinco carros foram feitos neste ano e nesta configuração Touring de sete passageiros. Encomendado pelo ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, serviu de carro oficial em diversas visitas de chefes de Estado pelo Brasil, transportando, entre eles, Getúlio Vargas, Charles de Gaulle, a rainha Elizabeth II e o papa João Paulo II.
Para os amantes do automobilismo, há outra sala também muito especial. Com uma referência visual de um autódromo, apresenta três carros originais da equipe Willys, que dominou o automobilismo brasileiro nos anos 1960.
No primeiro andar, a evolução do design e tecnologia
Já no primeiro andar, a exposição "O Design e a Evolução da Forma e da Tecnologia" se destaca com foco no desenho automobilístico e na experiência por meio de tecnologias imersivas, como a “Sala de Hologramas de Automóveis”, na qual os visitantes poderão conhecer em detalhes todos os modelos à mostra no “CARDE”.
É um grande salão apresentando a evolução do design, da forma, da aerodinâmica e da tecnologia geral dos automóveis. Totens interativos relacionam o design dos automóveis ao design geral de cada época, como arte, arquitetura, mobiliário, objetos, moda, costumes e filosofia.
E, como não poderia faltar, há também um ambiente com uma homenagem a Campos do Jordão, que conta com um ônibus jardineira em exposição e uma grande tela de LED que mostra, por meio da computação gráfica, a história, a cultura e as tradições da cidade mais alta do Brasil, além de depoimentos de vários moradores sobre suas lembranças e memórias especiais com a cidade.
Design inédito e pesquisa histórica aprofundada
O design inédito do “CARDE” foi concebido por Gringo Cardia, uma referência brasileira na criação de museus, assim como designer e cenógrafo. Ele é também artista visual, arquiteto, diretor artístico, diretor de vídeos, teatro, ópera e moda, e criou mais de 150 shows para artistas renomados do Brasil e do exterior, entre eles o Cirque Du Soleil. “A ligação sentimental e histórica com o automóvel é o grande diferencial do CARDE. A emoção é a forma mais eficiente de transmissão de cultura”, destaca Gringo Cardia.
A pesquisa bibliográfica e documental para a contextualização histórica foi realizada durante cerca de um ano por uma equipe de 15 historiadores liderados pela professora Heloisa Murgel Starling (UFMG). Já o professor Felipe Scovino (UFRJ) fez a curadoria de arte. O professor, historiador e designer automotivo, Carlos Castilho (FAAP), realizou as pesquisas de design no século 20. E João Pedro Gazineu é o responsável pela curadoria de história automotiva.
Resultado da inclusão de perspectivas essenciais para a diversidade, a pesquisa contou com a participação de três indígenas cujas visões e arte são fundamentais para a identidade do museu e para a importância da crítica e da poesia que ressoam nas histórias contadas: a ativista ambiental Daiara Tukano, que traz um forte contraponto aos automóveis, questionando seus impactos no meio ambiente, o artista visual Caripoune Yermollay, que apresenta a cosmologia “Karipuna” por meio de suas poderosas pinturas, e Rudá Jenipapo, com sua imponente escultura e pintura de um “Brasinca Uirapuru”.
“O automóvel aperta o gatilho da imaginação e o historiador vai buscar os livros e documentos para fazer essa conexão histórica. Eu nunca tinha pensado que a história do automóvel seria capaz de contar e puxar os fios da história do Brasil em diferentes camadas. Ele tanto conta sobre os grandes momentos históricos e acontecimentos, onde nós sempre vamos encontrar um automóvel, como também sobre a camada afetiva do povo brasileiro, quando o carro se encontra com as pessoas comuns e suas histórias de vida. O automóvel é o fio que faz acender o afeto e a memória”, diz Heloisa Murgel Starling, Professora Titular de História do Brasil e de História das Ideias na UFMG e Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Documentação do projeto República na UFMG.
Ações de transformação social: cidadania e educação como pilares essenciais
Como parte da Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA), ações de transformação social também foram integradas desde o início ao “CARDE”. Quem visitar o museu terá como monitores jovens formados pela Fundação. Além disso, estudantes do núcleo de teatro, com figurinos de época, vão apresentar de forma viva o contexto histórico para os visitantes. Como há uma grande utilização de tecnologia no “CARDE”, os monitores receberão treinamento profissionalizante em áreas técnicas. Campanhas educativas sobre segurança e educação no trânsito também serão um foco área de atuação da instituição.
Centro de referência e pesquisa
Vizinho ao prédio do museu, a área do “CARDE” também abriga um grande centro de referência e pesquisa. Destinado à documentação, preservação e inclusão de teses e materiais sobre os automóveis, design e a história do Brasil, o centro conta com uma ampla biblioteca especializada para a difusão de conhecimento junto ao público em geral, escolas e pesquisadores.
Simulador com experiência realista inédita
Entre as diversas experiências oferecidas pelo “CARDE”, destaca-se uma atração exclusiva para entusiastas do automobilismo: a oportunidade pilotar uma Ferrari Testarossa. Totalmente restaurada e transformada em um simulador avançado, a Ferrari proporciona aos visitantes a emoção de pilotar em circuitos com uma tela imersiva de 09 metros de largura. O simulador é um projeto único no mundo e permite uma experiência realista de controle e velocidade, transportando o público ao universo dos superesportivos.
Escola de restauro automotivo
Conjuntamente com a inauguração do “CARDE”, a primeira turma de jovens jordanenses especializada em restauro de carros antigos concluirá o curso da Escola de Restauro, iniciado com a “Turma Beta” em 2022.
É algo inédito no Brasil. “A formação de jovens no ofício de restaurador de veículos antigos gerará profissionais que terão um amplo campo de trabalho, uma vez que a área é extremamente carente de profissionais qualificados”, observa Luiz Goshima, que também é empresário e colecionador de obras de arte e carros antigos de classe internacional.
Esse curso envolve todas as necessidades para um restaurador eficiente de veículos antigos: conhecimento sobre as particularidades dos automóveis, marcas, diferentes tipos de motores e tecnologias, mecânica, funilaria, pintura, tapeçaria, parte elétrica, além de afinidade com a língua inglesa para acessar a literatura disponível mundialmente e entender o contexto histórico dos modelos. A primeira tarefa dos 25 estudantes foi restaurar um Ford T, de 1923, que será exposto com destaque no “CARDE”.
“Em nossa visão, a educação é uma das formas mais eficientes de combater a desigualdade social, que gera grandes lacunas em cultura, formação e, consequentemente, oportunidades”, diz Vanessa Costa, Diretora da FLMA.
“Os principais valores e objetivos de nossa Fundação são a união da arte, educação, cultura e bem-estar. Acredito que com o ‘CARDE’ atingimos todos eles. São muitos os destaques, mas um especial para mim é a sala que retrata o grande brasileiro João do Amaral Gurgel e suas criações. Sempre o admirei e com frequência o visitava em Rio Claro (SP), quando fazia questão de dar uma volta com suas últimas criações na pista de testes. Eram criações muito à frente de seu tempo. Sua esposa, Carolina, sorria, brincava comigo e dizia para não ir porque ele corria muito. Foi um grande brasileiro”, afirma Lia Maria Aguiar, Presidente da FLMA.
Infraestrutura de recepção ao visitante
A experiência do “CARDE” inclui todo o conforto de um museu moderno. O espaço conta com estacionamento, acessibilidade, espaço família, playground temático, loja de souvenir e um lindo jardim encravado no verde da Serra da Mantiqueira.
A cafeteria e o restaurante serão assinados por grifes gastronômicas. E a valorização da cultura da Mantiqueira, está no mobiliário da cafeteria que foi todo desenvolvido por Morito Ebine, marceneiro japonês que se tornou um expoente no design de móveis.
Serviço
Abertura ao público: 28/11/2024
Fechado: terças e quartas-feiras
Ingressos: Promocional de inauguração por R$ 120,00
Endereço: Rua Benedito Olímpio Miranda, 280 – Alto da Boa Vista,
Campos do Jordão - SP, CEP: 12.472-610
Site: www.carde.org
E-mail: contato@carde.org
Instagram: @carde.museu
Telefone: (12) 3512-3547