Como proteger a credibilidade da marca e reputação digital diante das novas políticas da Meta?

Por Silvana Piñeiro Nogueira

20 de Janeiro de 2025 | 08h00

Nicolas Tucat / AFP

A decisão divulgada pela Meta de encerrar seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos não é apenas uma questão interna da big tech com efeitos limitados a seu país-sede — sua reverberação afeta diretamente empresas em todo o mundo, especialmente no Brasil, um dos mercados mais conectados. Para marcas brasileiras, isso significa navegar em um ambiente digital mais arriscado, onde coloca-se em risco a reputação. Como proteger a imagem e credibilidade, visando manter uma presença online confiável e sólida?

Importante analisarmos o contexto brasileiro. Diante do discurso de seu cofundador e Diretor-Executivo, Mark Zuckerberg, que sinaliza uma nova guinada para Instagram, WhatsApp e Facebook, a Advocacia Geral da União (AGU) notificou a companhia extrajudicialmente, exigindo explicações sobre como garantirá o cumprimento das leis e regulamentações brasileiras contra difamação, discriminação, desinformação e discursos de ódio após o fim do programa de checagem de fatos.

Em resposta, a Meta informou que as mudanças anunciadas serão inicialmente limitadas aos EUA, e reafirmou seu compromisso com a remoção de conteúdos violentos ou desinformativos e com riscos claros. A AGU, no entanto, expressou "grave preocupação" com as alterações, que podem facilitar violações legais, além de abrir espaço para desinformação e preconceito, o que levou à convocação de uma audiência pública para debater o tema.

Com ou sem práticas de fact checking, a verdade é que as fake news já se disseminam em grande volume e ritmo acelerado entre nossa população há tempos. Quase 90% dos brasileiros já tiveram contato com conteúdo falso e 51% admitem ter acreditado neles. É o que revela uma pesquisa do Instituto Locomotiva. O Brasil é um dos mercados mais relevantes para a Meta. Para dar dimensão, o WhatsApp é a rede mais utilizada no País, com 147 milhões de usuários, de acordo com o “Digital Brazil 2024”, um relatório desenvolvido pelo DataReportal. Em seguida estão o Youtube (144 milhões), Instagram (134,6 milhões) e Facebook (111,3 milhões). Nesse contexto, as fake news não só afetam a sociedade, mas também podem impactar diretamente as marcas presentes nas plataformas. A ausência de checagem pode aumentar o risco de ataques e disseminação de informações inverídicas relacionadas às empresas.

 

Mas como evitar esse movimento?

O monitoramento contínuo é a primeira linha de defesa para as empresas. Isso inclui rastrear menções à marca, comentários em publicações e até mesmo conteúdo gerado por usuários que possam prejudicar sua imagem. Ferramentas de Inteligência Artificial desempenham um papel fundamental nesse processo, assim como o olhar de profissionais especializados, já que permitem identificar e reagir rapidamente a possíveis ameaças. A velocidade é necessária: notícias falsas têm 70 vezes mais chance de viralizar do que informações verdadeiras, como já apontou um estudo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ou seja, o problema exige uma reação imediata por parte das marcas.

É necessário investir em equipes que possam intensificar esses trabalhos, cruzando tecnologia, capacidade analítica e sensibilidade humana para aumentar a eficácia das respostas a crises e potenciais problemas.

Outro ponto essencial é a comunicação transparente. As empresas devem garantir que todas as informações divulgadas em suas redes estejam conforme leis como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e as normativas contra calúnia e difamação. Mensagens claras, verídicas e respaldadas por ações concretas reforçam a confiança do público e demonstram o comprometimento da marca com a ética.

O respeito às boas práticas de compliance é igualmente importante. Isso inclui realizar uma curadoria rigorosa do conteúdo publicado em seus canais, com prioridade para informações que sejam relevantes e precisas.

Dependência excessiva de uma única plataforma pode expor marcas a riscos desnecessários. Por isso, a diversificação da presença digital é uma estratégia primordial. Redes como LinkedIn, TikTok e YouTube oferecem alternativas valiosas à Meta para alcançar diferentes públicos e minimizar o impacto de mudanças nas políticas de uma única empresa. Reforço, não se trata de abandonar territórios importantes de conexão com o público como o Instagram, mas de pulverizar sua presença.

Cada canal deve ser explorado de maneira estratégica. Enquanto o LinkedIn é ideal para fortalecer a autoridade e credibilidade corporativa e de executivos, o TikTok pode oferecer formatos mais dinâmicos e criativos para engajamento. Já o YouTube é perfeito para conteúdos aprofundados e com potencial de maior duração, mantendo o público engajado por mais tempo.

Por fim, a prevenção passa também pela educação interna e uma boa estrutura de gestão de crises. Empresas devem capacitar seus times para lidar com crises digitais, treinar porta-vozes e estabelecer protocolos claros para responder a incidentes negativos nas redes sociais. Esse preparo ajuda a mitigar os danos e fortalece a capacidade da organização de proteger sua reputação.

As novas políticas da Meta têm potencial de mudar a evolução das redes sociais, exigindo das empresas uma postura proativa e estratégica. Com monitoramento intensivo, comunicação transparente, diversificação digital e educação interna, é possível não apenas proteger a credibilidade, mas também se posicionar como referência em um ambiente digital cada vez mais desafiador.

Silvana Piñeiro Nogueira

Silvana Piñeiro Nogueira é fundadora e CEO da Smartcom Inteligência em Comunicação, que há 13 anos atua na área de Comunicação Internacional B2B.