Por Rose Campos
10 de Fevereiro de 2025 | 08h00
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O início de um novo ano é um momento propício para reflexões e reavaliações, tanto em nível pessoal quanto profissional. A maioria das pessoas que acompanha meus textos sabe que costumo me aproveitar dos ecos do meio para refletir, escrever e, quem sabe agir. Neste contexto, neste começo de ano, deparei-me com dois assuntos que chamaram muito a minha atenção: dois fenômenos que, embora distintos, se entrelaçam de maneira significativa: o etarismo e a procrastinação. O tema da procrastinação chegou a mim por meio de um artigo no LinkedIn, enquanto o etarismo foi abordado por uma Consultora de Marketing, que compartilhou sua visão sobre a empresa em que atua e o mercado de trabalho. Ela destacou como essa visão sobre o etarismo pode levar à desvalorização da sabedoria acumulada ao longo dos anos, resultando em “um ciclo de procrastinação” que impede o crescimento e a colaboração intergeracional. Parei, pensei e escrevi!
O etarismo, portanto, se refere à discriminação e preconceito baseados na idade, afetando tanto jovens quanto idosos. Em muitas culturas, a juventude é celebrada como sinônimo de inovação e dinamismo, enquanto a idade é frequentemente associada à lentidão e resistência à mudança. Essa visão reducionista ignora a riqueza de conhecimento e experiência que os mais velhos podem oferecer. A sabedoria adquirida ao longo de anos de vivência não é apenas um recurso valioso, mas também um guia essencial para a tomada de decisões acertadas.
Já a procrastinação, como reflexo de preconceitos, muitas vezes vista como uma falta de vontade ou motivação, pode ser entendida de maneira diferente quando analisada sob a lente do etarismo. Quando a cautela e a paciência dos mais velhos são interpretadas como inatividade ou indecisão, há uma tendência de desvalorizar suas contribuições. Essa percepção pode levar a um ambiente de trabalho onde a experiência é vista como um obstáculo, em vez de um ativo. Assim, a procrastinação pode ser uma resposta ao desdém por parte de colegas mais jovens que não reconhecem o valor da reflexão e da espera ou cautela.
Sendo assim, é imprescindível que as empresas realizem uma revisão permanente de suas práticas e atitudes, valorizando a importância da integração intergeracional em um mundo em rápida transformação, impulsionado pelo avanço da tecnologia e pela ascensão da inteligência artificial (IA). A competição no mercado de trabalho está se intensificando, e a IA está mudando a forma como as tarefas são executadas. No entanto, é crucial lembrar que, por trás da tecnologia, existem "seres experientes, pensantes e emocionais", e a exclusão desses indivíduos pode não apenas empobrecer o ambiente de trabalho, mas também desumanizar a sociedade, criando um espaço onde a diversidade de experiências e saberes é ignorada.
Nesse contexto, é fundamental reconhecer que o verdadeiro potencial de uma equipe reside na capacidade de unir a inovação da juventude com a experiência dos mais velhos. As empresas que reconhecem e valorizam essa sinergia tendem a ser mais bem-sucedidas. A inovação, por si só, é fundamental para o crescimento, mas quando combinada com a experiência, resulta em decisões mais equilibradas e estratégias mais eficazes. Os jovens trazem novas perspectivas e habilidades tecnológicas, enquanto os mais velhos oferecem insights valiosos e uma visão de longo prazo. Portanto, ao promover a colaboração intergeracional, as organizações não apenas enriquecem seu ambiente de trabalho, mas também garantem um futuro mais humano e sustentável.
Uma pesquisa realizada pela AARP (Associação Americana de Aposentados) em 2021 revelou que 78% dos trabalhadores mais velhos acreditam que a discriminação etária é um problema significativo no local de trabalho. Além disso, um estudo de 2020 da McKinsey & Company destacou que equipes diversificadas em termos de idade tendem a ser mais inovadoras e eficazes, mostrando que a experiência e a inovação podem coexistir e se complementar. Assim, promover a integração intergeracional não apenas fortalece as equipes, mas também se torna uma estratégia essencial para enfrentar os desafios do futuro, garantindo que a diversidade de experiências contribua para um ambiente de trabalho mais inovador e colaborativo.
História Viva
Neste início de ano, é um momento oportuno para que as empresas considerem reavaliar suas políticas e práticas de recrutamento e gestão de talentos, buscando um alinhamento com os conceitos de ESG (Ambiental, Social e Governança). Os departamentos de Gestão de Pessoas podem desempenhar um papel fundamental ao promover um ambiente inclusivo que valorize todas as idades, contribuindo para a responsabilidade social das organizações. Uma abordagem interessante seria a realização de workshops sobre etarismo e suas implicações no ambiente de trabalho, incentivando a conscientização sobre a importância da diversidade etária.
Além disso, é essencial criar programas de mentoria que conectem jovens e mais velhos, facilitando a troca de conhecimentos e experiências valiosas. A implementação de políticas que reconheçam e recompensem a experiência dos colaboradores mais velhos também é um passo importante, incentivando-os a compartilhar suas habilidades e sabedoria. Cultivar uma cultura onde todas as vozes sejam ouvidas, independentemente da idade, é crucial para promover um ambiente de respeito e cooperação, refletindo os princípios sociais do ESG e fortalecendo a coesão da equipe.
A integração intergeracional, portanto, não só enriquece o ambiente de trabalho, mas também fortalece a capacidade das empresas de inovar e se adaptar às demandas do mercado. Ao eliminar preconceitos etários e valorizar a diversidade de experiências, as organizações podem criar um espaço mais produtivo e equilibrado. Neste novo ano, é essencial que o compromisso com a inclusão etária e as práticas de ESG seja uma prioridade, promovendo um ambiente onde todas as gerações contribuam de maneira significativa para o sucesso coletivo. Assim, avançaremos juntos, construindo um futuro mais colaborativo e sustentável.
Rose Campos
Rose Campos é jornalista ambientalista. Ela também é apresentadora e editora do programa e revista Ecos do Meio.