“Ainda Estou Aqui” e a Comunicação

Por Larissa Sugiyama

24 de Fevereiro de 2025 | 17h00

Divulgação

De acordo com Giovanni Begossi, especialista em Comunicação e Oratória com 15 anos de estudos dedicados ao assunto, cada diálogo do filme carrega um peso estratégico que reforça o quanto uma mensagem bem estruturada pode ultrapassar barreiras e alcançar diferentes interlocutores ou resultados

O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e indicado ao Oscar de “Melhor Filme” – a maior categoria da premiação – apresenta uma narrativa intensa sobre memória, resistência e justiça.

A história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, consiste na luta para esclarecer o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a Ditadura Militar. Ao longo dessa trajetória, a obra evidencia aspectos fundamentais da Comunicação e da oratória, e reforça como o poder da palavra também é uma ferramenta de mobilização, resistência e enfrentamento.

A construção da protagonista revela a importância da articulação direta e precisa na fala. Eunice precisa se expressar com clareza para ser ouvida em meio a um cenário de censura e incerteza, e é justamente sua capacidade de argumentar de forma coerente que deixa clara a necessidade de uma comunicação eficiente, especialmente quando as verdades são incômodas.

De acordo com Giovanni Begossi, especialista em Comunicação e Oratória com 15 anos de estudos dedicados ao assunto, cada diálogo do filme carrega um peso estratégico que reforça o quanto uma mensagem bem estruturada pode ultrapassar barreiras e alcançar diferentes interlocutores ou resultados. 

A Eunice atuava como uma espécie de advogada em busca de justiça e reparação por tudo o que seu marido e sua família sofreram. E sabemos que um advogado, além dos conhecimentos técnicos, precisa ter habilidades de comunicação para convencer o magistrado, construir raciocínios sólidos, persuasivos e bem fundamentados; isso é indispensável quando se prepara uma defesa”, pontua Giovanni.

Outro elemento central do filme é a escuta ativa, habilidade essencial para compreender contextos e interpretar informações além do que é explicitamente dito. A protagonista se depara com verdades fragmentadas e silêncios que falam tanto quanto palavras e se vê obrigada a captar nuances e ler nas entrelinhas, demonstrando como a escuta atenta pode ser tão decisiva quanto a fala na construção de diálogos efetivos.

Outro papel importante na narrativa e na maneira como a protagonista se comunica está relacionado à emoção. O longa mostra que o impacto de um discurso não depende apenas da racionalidade, mas também da forma como os sentimentos são transmitidos. A dor, a indignação e a determinação de Eunice dão força às suas palavras, tornando sua busca ainda mais contundente. “Esse aspecto reforça a importância de equilibrar emoção e objetividade na criação de discursos mais persuasivos”, explica o especialista.

Giovanni conclui a análise destacando a persistência como um elemento essencial da Comunicação. “O filme retrata como a repetição de uma mensagem, aliada à convicção de quem a transmite, pode quebrar barreiras e provocar mudanças. Essa lição vale tanto para o cinema quanto para a realidade, e mostra que a oratória não se resume a técnicas, mas também à força de quem sustenta a palavra”, finaliza.