Tarifas, Tensões e Reação Global

Por Carina Rodrigues

17 de Abril de 2025 | 16h40

GEMINI \ Marco Antonio Rossi

“Neste momento, o que se observa é uma perda real da liderança política dos Estados Unidos no cenário internacional", disse Alexandre Uehara

As recentes medidas do governo Donald Trump, que aplicam tarifas às importações de diversos países, inclusive à China e a parceiros históricos, revelam uma estratégia arriscada e com efeitos colaterais globais. Segundo Alexandre Uehara, coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM, longe de conter a China, as ações do republicano acabam por isolar os próprios Estados Unidos no cenário internacional.

A política tarifária adotada de forma ampla acabou afetando também aliados tradicionais, como Japão, Coreia do Sul e Canadá, criando um ambiente de desconfiança. Na avaliação de Uehara, ao tentar atingir a China, Trump errou ao não prever a reação do país asiático e subestimou o impacto global de suas decisões. A China, por outro lado, já vinha se preparando para esse tipo de cenário, com investimentos de longo prazo em tecnologia, infraestrutura e alianças como os BRICS e a iniciativa Cinturão e Rota.

Para o especialista, a liderança dos Estados Unidos nas relações internacionais — construída desde o século XIX — está sendo corroída. Antigos aliados, como os países europeus, o Japão e até mesmo nações da América Latina, já não enxergam mais os EUA como referência política e econômica confiável. Esse vácuo abre espaço para novas coalizões, muitas delas lideradas pela China.

Internamente, os efeitos também são significativos. Uehara aponta que a inflação, a volatilidade do câmbio, a queda de investimentos e a insegurança dos mercados refletem o enfraquecimento da credibilidade econômica americana. A política protecionista tem paralisado negociações e afastado investidores, o que prejudica a economia global como um todo, segundo ele.

Nesse contexto, outras regiões têm se movimentado. A Ásia, por exemplo, fortaleceu laços internos e externos. Um acordo trilateral entre China, Japão e Coreia do Sul, algo até então improvável devido às tensões históricas, reforça a tendência de aproximação regional diante do afastamento dos Estados Unidos. De acordo com Uehara, a região asiática já se projeta como o motor econômico do século XXI.

O professor também destaca a discussão sobre alternativas ao dólar em transações internacionais, pauta que deve ganhar força nas próximas reuniões do BRICS. Ainda que a substituição da moeda americana não deva ocorrer em curto prazo, cresce a adesão a mecanismos de compensação em outras moedas, um movimento que, segundo ele, pode redesenhar a dinâmica do comércio global. Para ele, “O mundo começa a olhar para a China como uma alternativa diante das incertezas provocadas pela política externa dos Estados Unidos”.

Alexandre Uehara é o entrevistado desta semana no programa Comunicação S/A, produzido para as plataformas de streaming da Mega Brasil Comunicação. Para assistir à entrevista na íntegra, acesse:

https://radiomegabrasilonline.com.br/site/programa/programa-comunicacao-s-a/