Digitalks Executive e o futuro do digital

Por Larissa Sugiyama

29 de Outubro de 2021 | 11h00

Divulgação

Sustentabilidade, Dados, Smart Cities e Diversidade no mundo digital são os destaques do último dia do Digitalks Executive.

Um evento de proporções mundiais para discutir soluções para os problemas climáticos, como é o caso da COP 26 (Conferência do Clima da ONU, em Glasgow, Escócia, que começa no dia 31), tem relação com o trabalho de startups de inovação? A resposta é sim, de acordo com Suelma Rosa, Head de Assuntos Corporativos, Governamentais e de Sustentabilidade da Unilever, que participou, ao lado de Lana Pinheiro, jornalista da IstoÉ Dinheiro, do Talk Show de Abertura do segundo dia do Digitalks Executive, sob o tema “COP 26: o compromisso das empresas para melhorar a saúde do planeta”.

De acordo com a executiva, marcas com propósito crescem e duram ao longo dos anos, e pessoas com propósito prosperam. “Os problemas climáticos são de todos. Se de um lado temos a Unilever se posicionando como líder global em negócios sustentáveis e para co-criação de uma economia voltada à sustentabilidade, de outro temos empresas de menor porte, startups e cada pessoa que podem contribuir com atitudes no seu dia-a-dia, e realmente fazer a diferença”, destacou Suelma.

O Brasil, na análise de Suelma, terá participação importante no evento climático graças à tradição diplomática do país num ambiente colaborativo como é a COP 26. “Os governos dos EUA e Europa lideram o processo de mobilização da sociedade juntamente com jovens e até adolescentes engajados, uma vez que a juventude sempre foi a força transformadora da humanidade. A expectativa é que a conferência crie compromissos com a agenda, e que o Brasil possa colaborar. O impacto social do evento é mais importante que a conjuntura”, analisou.

A preservação do planeta já é discutida com intensidade há pelo menos 30 anos, mas com o contexto atual, ainda mais afetado pela pandemia, destacou Suelma, ficou ainda mais visível e urgente que o tema já não é mais algo a ser resolvido no futuro, mas para ser sanado agora, com envolvimento de todos. “Já se veem os impactos do desequilíbrio em diferentes níveis em comunidades por todo o planeta, como furações, enchentes, secas, avanço do mar e subida nos níveis dos oceanos. A mitigação e manutenção da elevação de temperatura do globo em no máximo 1,5ºC é o primeiro passo, mas é necessário ainda discutir as adaptações para as mudanças que estão em curso, gerar mobilização financeira para viabilizar as soluções e aumentar a participação da sociedade e do setor privado”, enumerou a executiva.

A Unilever, como companhia de alcance mundial, faz o investimento necessário e, de acordo com a executiva, o que em 2010 foi um plano de sustentabilidade bem estruturado, hoje avançou para um direcionamento estratégico que permeia todas as atividades da empresa. “O plano de sustentabilidade é nosso plano estratégico. Composto por 37 metas claras, e uma delas, de curto prazo: de estruturar a economia circular de plástico até 2025 para assegurar a circularidade, reciclabilidade e redução de uso de plástico, com muito investimento e dedicação em design de embalagens, tecnologia para desenvolver outros tipos de materiais e outras iniciativas”, explicou. No entanto, empresas menores e pequenos empreendedores podem e devem fazer parte de todo esse movimento, assegura Suelma Rosa. “ É preciso que inovem, criem, tragam novas soluções para novas demandas. O trabalho das startups e pequenos empreendedores é fundamental em toda essa cadeia, até porque, determinados tipos de produtos e ecossistemas de trabalho só são viáveis com pequenos produtores, como é o caso de alimentos orgânicos”, destacou a executiva da Unilever.

 

As mulheres no mundo digital

No painel “Como capacitar a nova geração de mulheres líderes no digital? ”, Ana Barros, fundadora da Martech Digital, destacou uma das principais soft skills da liderança feminina no mundo digital: a capacidade de gestão de tempo. “Nós, mulheres, somos multitarefas – empreendedoras, mães, donas de casa, esposa, amiga. Enfim, assumimos muitos personagens ao mesmo tempo, e conseguimos ter essa capacidade de gestão do tempo”.

Também participaram do debate Fernanda Esposito, Head de Franchising da Atlantic Hub, e Bianca Cerveira, Gerente de Marketing de Produtos da Siemens. As três ressaltaram a importância de mobilização da sociedade para que todos possam ocupar os mesmos espaços, não apenas de gênero, mas também racial.

A empresa precisa praticar diferentes avaliações nas pessoas e entender que cada uma tem uma característica diferente que pode agregar à equipe. Existem pessoas que se dedicam mais pontualmente a um certo tipo de conteúdo técnico, enquanto outras conseguem olhar para a gestão de trabalhos em grupo. O grande ponto é: revisitem o seu propósito, olhem para as pessoas além de ser homem ou mulher, mas olhem para suas características e perfis, seus potenciais. É importante que esse tipo de comportamento e pensamento façam parte da cultura organizacional, que elas tenham essa opção de igualdade, e entendam que as pessoas se complementam pelos seus diferentes perfis”, disse Ana Barros.

Outro ponto abordado durante o painel é como o mundo digital elimina barreiras geográficas, uma vez que é possível abrir uma empresa e interagir em qualquer lugar do mundo. As empresas estão vivendo cenários em que há múltiplas gerações dentro de uma mesma empresa, com as mulheres assumindo cada vez mais protagonismo no ambiente digital. “A pandemia impulsionou o ensino à distância e valorizou essas trocas no digital. Além disso, nos incentiva a seguir diferentes mulheres que são grandes exemplos e líderes nas redes sociais, que nos inspiram e nos empoderam cada vez mais”, destacou Bianca Cerveira.

Para as mulheres que estão iniciando negócios no digital, as painelistas deram algumas dicas: é importante paciência, dedicação e plano de desenvolvimento para sua carreira. “Estejam próximas de pessoas que impulsionem e apoiem seu plano na vida pessoal e profissional, que sejam verdadeiros parceiros de trabalho. Valorizem as mulheres, tirem as barreiras, e inspirem outras mulheres. Não tenham medo de se valorizarem, façam uma viagem em seu interior, descubram seu propósito. A partir disso, criem um plano de desenvolvimento individual, tanto pessoal, quanto profissional e acadêmico. Nós temos tempo e conseguimos gerenciar esse tempo; não deixem de estudar, de trabalhar, de serem mães e o que quiserem. Estejam rodeadas de pessoas otimistas e tirem do lado o que é tóxico. É possível seguir a estrada quando se tem valores bem definidos”, complementaram as executivas.

 

Smart Cities: Como os setores público e privado podem trabalhar juntos?

Esse foi o questionamento que Carolina Morales, CMO da Átimo, realizou a Ailtom Nascimento, VP Executivo do Grupo Stefanini, e a Paulo André Domingos, CEO do Itaú iCarro, que participaram do painel “Smart Cities e dados”. Segundo Paulo André, a cooperação é fundamental e precisa ser construída passo a passo. Já Ailtom pontuou a importância de o setor público patrocinar esses projetos em parceria com as empresas. “Precisamos de informações fluidas para oferta de serviços públicos de qualidade dentro desse contexto de Smart Cities”, enfatizou o VP da Stefanini. Os dois citaram Estônia e Cingapura como exemplos de governos digitais que podem inspirar outros projetos de Smart Cities.

O painel discutiu ainda como os dados são insumo essencial para colocar em prática a criação das Smart Cities. Outra questão importante é como atuar neste momento de desconfiança no compartilhamento de informações e como trazer para esta realidade os fundamentos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “As pessoas precisam ser responsáveis pelos seus próprios dados. É uma questão de conscientização que precisa ser difundida em toda a sociedade para evitar riscos”, frisou Ailtom Nascimento.

 

Corrigir o abismo digital no Brasil é essencial para o país inteiro

Renato Meirelles, otimista tecnológico e Presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva, amarrou todo o debate do dia com um questionamento muito importante, também nos âmbitos público e privado: o abismo digital no Brasil é grave e agrava a desigualdade nacional. Dentro da reflexão colocada por ele há um problema, mas também existe a solução. Segundo o professor, pesquisador e ativista, investir em internet para todos é uma das chaves para reverter o grande abismo de classe, de raça, e consequentemente, social, que vive o país, promovendo oportunidade de geração de renda para quem vive às margens.

A pandemia escancarou verdades como os déficits de infraestrutura e de letramento digital que contribuem para a piora na educação de grande parte da população brasileira. Os dados da pesquisa, feita recentemente pela Locomotiva em parceria com a PwC, mostram que dentro da Classe A, com 3,5% dos brasileiros, 99,8% acessam a internet; na Classe C a porcentagem cai para 91%; e apenas 64% nas Classes D e E. Além disso, 86% dos brasileiros acessam a internet na área urbana, e dois terços acessam na área rural. “Os dados deixam claro que todas as desigualdades existentes no nosso país ainda dialogam com a internet. Quando se olha para a questão racial, 83% dos brancos acessam a internet, enquanto apenas 75% dos negros têm esse privilégio. O gap digital no Brasil tem rosto e cor”, reforça Meirelles.

A desigualdade de acesso à internet nos provoca a desenvolver políticas públicas e privadas para democratizar o perfil do internauta no Brasil. Consertar o abismo digital é uma das principais formas de melhorar a produtividade no mercado nacional. Essa diferença atinge mais os pobres do que os mais ricos, e romper com esse ciclo é uma chance concreta de mudar essa realidade. Quando isso muda, todos ganham no país”, finalizou Renato Meirelles.