Vozes indígenas: falas que merecem ser ouvidas

Por Larissa Sugiyama

04 de Agosto de 2022 | 09h00

Divulgação

“O que tenho testemunhado nos últimos anos é o uso da Comunicação como arma de luta para defesa de direitos sistematicamente atacados. No Brasil, os indígenas são uma minoria praticamente invisível. E as redes sociais estão permitindo que eles busquem mais visibilidade em seus próprios termos, sem intermediários”, comenta Cassuça Benevides.

Não é de hoje que assuntos relacionados a questões indigenistas no Brasil são pautas de discussões, seja no campo político, geográfico, social e até mesmo, comunicacional. Contudo, é perceptível que, de uns tempos para cá – muito em decorrência dos últimos acontecimentos – o tema ganhou mais força nas mídias, e vem levantando discussões cada vez mais necessárias acerca do entendimento do que é falar sobre questões indigenistas.

Esse aumento de interesse está intimamente ligado ao atual cenário da Comunicação em que o profissional do setor está vivendo, uma vez que o ambiente cada vez mais se diversifica, obrigando esse profissional a ampliar a sua visão e seu entendimento do mundo e estar antenado ao grandes temas contemporâneos compartilhados pela sociedade em geral.

Mas será que assuntos relacionados às questões indigenistas estão mesmo sendo abordados na mídia e na grande imprensa como deveriam mesmo?

A Mega Brasil, atenta à essas questões e querendo dar voz às pessoas que entendem essa realidade indigenista melhor do que qualquer um, traz para a 25ª edição do Congresso Mega Brasil de Comunicação, Inovação e Estratégias Corporativas comunicadores ativistas dos povos originários da Amazônia para compartilharem um pouco sobre os desafios de quem vive essa realidade todos os dias na região.

E uma dessas vozes é a da jornalista Cassuça Benevides, que estará presente na primeira Mesa-Redonda do Congresso Mega Brasil, discutindo o painel cuja temática é “Comunicação – A nova arma dos povos originais da Amazônia”, que terá lugar no dia 18 de agosto, a partir das 11h10, e pretende abordar a força do papel da Comunicação no Brasil como arma para o entendimento dos povos indígenas pela sociedade em geral.

O que tenho testemunhado nos últimos anos é o uso da Comunicação como arma de luta para defesa de direitos sistematicamente atacados. No Brasil, os indígenas são uma minoria praticamente invisível. E as redes sociais estão permitindo que eles busquem mais visibilidade em seus próprios termos, sem intermediários”, comenta Cassuça.

Para ela, é importante destacar também que quando se fala de cultura indígena, não estamos falando de apenas uma cultura, e sim de várias. A sociedade em geral tem o hábito de reduzir os povos indígenas a uma única cultura, porém, elas são muitas, e cada uma com a sua identidade própria, o que reforça ainda mais a necessidade desses povos de serem ouvidos e terem voz. “O nosso país é um dos mais biodiversos e um dos mais sóciodiversos também. Aqui se fala mais línguas do que na Organização das Nações Unidas e ninguém nem sabe. Cada povo tem uma cultura própria e existem mais de 300 povos no Brasil”, ressalta.

Contudo, embora tenhamos visto um aumento de interesse por parte da mídia em abordar questões indigenistas, para Cassuça essas abordagens ainda estão muito longe da ideal, ou mesmo, da maneira como deveriam ser abordadas. A jornalista, inclusive, cita como exemplo, um episódio considerado por ela como a maior oposição organizada ao Governo desde 2019, que teve um cobertura muito pobre da grande imprensa: os indígenas foram os agentes da primeira grande derrota de um Governo recém-eleito e muito popular, quando impediram a extinção da Funai ou sua transferência do Ministério da Justiça para o da Agricultura.

Em abril passado, mais de 8 mil indígenas se reuniram em Brasília no Acampamento Terra Livre. Dá para imaginar um setor, qualquer um, reunindo tanta gente na capital do país e merecendo tão pouco espaço que os motoristas de Uber me perguntavam o que estava acontecendo ali? Taxista ouve rádio o tempo todo e não se falava nada. Foi preciso uma performance para ganhar espaço no chamado horário nobre. No acampamento anterior, que durou semanas por causa dos adiamentos para votação do Marco Temporal, foi a mesma coisa. A cobertura só aconteceu depois do conflito com a polícia em uma das manifestações”, relembra ela.

Será que índio não dá leitura porque é um assunto desinteressante ou porque a cobertura é superficial, a ignorância é imensa e nem é reconhecida? Esses são os questionamentos que Cassuça traz consigo quando pensa nos motivos que levam a grande imprensa a não considerar o assunto da maneira como deveria. “Indígenas ainda hoje têm pouca ou nenhuma voz na grande imprensa e isto acontece com populações tradicionais de uma maneira geral.  Mesmo assim, como na Constituinte, eles são uma minoria mobilizada e determinada, que tem encontrado formas de resistir e de defender seus direitos e a floresta. E de se fazer ouvir”, diz ela, indo na direção oposta do que a mídia quer que as pessoas acreditem.

Não se pode esquecer que as questões indigenistas também estão intimamente ligadas a outras questões relacionadas à ESG. Muito se acredita que o ESG pode ser um meio de estreitar relações entre o mundo no geral e esse mundo específico, dos povos indígenas. Para Cassuça tudo é preto no branco. A jornalista acredita que as coisas só vão, de fato, começar a melhorar quando o setor privado entrar na jogada. “Não existe solução para a Amazônia sem a inclusão do setor privado. Se precisamos partir para um modelo de desenvolvimento sustentável, de valorização da floresta em pé para sobrevivermos como espécie, para sair da emergência climática, o setor privado não pode estar de fora. Ele tem que ser o motor, como foi no tratado de mais sucesso até hoje na área ambiental, que foi o Acordo de Montreal, para impedir o contínuo crescimento de buracos na camada de ozônio”.

Mas a jornalista é esperançosa. Ela sabe que ainda há muito o que se fazer pelos povos indígenas, pelas florestas, pelo meio ambiente. E sabe também que as vozes indígenas ainda não foram suficientemente ouvidas por todas as pessoas. Porém, ela acredita que o mundo pode mudar, pois os bons exemplos já existem, só precisam ganhar mais força.

Acredito que as coisas normalmente pioram antes de melhorar e espero que estejamos nos encaminhando para o ponto de virada. Para o momento em que o setor privado vai abraçar o desafio e trabalhar para buscar este novo modelo econômico. Mas não creio em bala de prata. Não vai ser ESG ou Mercados de Carbono ou desinvestimento que poderiam sozinhos resolver o problema. Vai ser um esforço nosso como humanidade e vai significar sacrifícios e grandes transformações nas formas de produzir e de consumir. Já temos alguns bons exemplos e espero que eles se multipliquem na velocidade que a humanidade necessita”, reflete Cassuça

Cassuça Benevides trabalha há mais de 10 anos em projetos de comunicação ligados à mídia na Amazônia, já tendo coordenado projetos sobre Mídia e Amazônia na ANDI, organização sem fins lucrativos que articula ações inovadoras em mídia para o desenvolvimento. Desde fevereiro deste ano, coordena a Comunicação do Instituto Kabu, dos Kayapó Mekrãgnotí do sudoeste do Pará.

Cassuça é uma das presenças confirmadas na primeira Mesa-Redonda da 25ª edição do Congresso Mega Brasil de Comunicação. Ao lado dela, também estarão presentes o jornalista Eric Marky Terena, fundador da Mídia Índia; Juliana Radler, idealizadora da Rede Wayuri, do ISA – Instituto Socioambiental do Rio Negro; e Luciene Kaxinawá, primeira repórter indígena para TV.

A 25ª edição do Congresso Mega Brasil tem como tema central “Diversidade, Conectividade, Credibilidade – A Era da Comunicação Transformadora”, e acontece nos dias 17, 18 e 19 de agosto, na Unibes Cultural, um dos espaços culturais mais emblemáticos de São Paulo e do Brasil.

A edição deste ano marca o retorno do evento ao modelo presencial, que acontecerá seguindo rigorosamente todos os protocolos sanitários definidos pelas autoridades brasileiras. O Congresso contará com um número limitado de participantes, em um único ambiente de discussão – o auditório principal da Unibes Cultural.

As inscrições para participar da 25ª edição do Congresso Mega Brasil podem ser feitas clicando neste link. Clientes Mega Brasil e demais apoiadores têm 15% de desconto na inscrição.

 

Apoiadores do Congresso

Como em todas as edições anteriores, o Congresso Mega Brasil deste ano conta com importantes apoios que não apenas viabilizam a iniciativa, mas também permitem que ela possa ser oferecida por valores muito abaixo de eventos semelhantes no mercado.

A edição de 2022 tem o apoio de: General Motors, Gerdau, Boxnet, Trama Comunicação, OEC, Iguá Saneamento, EMS, Energisa, MRV, Samsung, SAP, Hotmart, Janssen, McDonald’s, Philip Morris, MSL Andreoli, LATAM Airlines, Sinapse e XP Inc.

Apoio Institucional: Unibes Cultural, ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas), Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação), CONRERP 2ª Região São Paulo e Paraná, ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos), ABCPública e Fantástico Mundo RP.