Diálogos Sustentáveis

Por Rose Campos

20 de Abril de 2023 | 10h00

Estatísticas e pesquisas diversas já foram realizadas para mostrar o quanto destruidor pode ser a má comunicação empregada no transcorrer de qualquer trabalho, ou nos relacionamentos pessoais e até mesmo familiares... no decorrer de nossas vidas! Hoje, podemos observar que uma das razões para que isso ocorra é a falta de visibilidade sobre os grupos, o abafamento de suas vozes e, consequentemente, o valor atribuído a eles.

Nesse sentido tivemos grandes avanços, pois conseguimos abandonar o nosso quadradinho, romper com o silêncio e expor nossas verdades para enxergar outras verdades. Porém, o principal, é aprendermos a ouvir e respeitar o outro, pois sempre seremos diferentes, graças a Deus, uns dos outros.

Refletindo sobre todo esse contexto e como aprendemos a ouvir a nossa comunicação, penso sobre as guerras travadas por nossos antecessores - que apenas desejavam, resumidamente, o desenvolvimento e a paz, através de ações que gritavam: ouçam a nossa voz e nos respeitem – abriram o caminho para chegarmos até aqui, porém ainda temos muito a dialogar para diminuirmos distâncias, agressões, abusos e preconceitos que colocam em xeque o nosso próprio desenvolvimento.

 

Abrindo um parêntese...

Essas atitudes que reverberaram dentro das empresas nasceram de lutas políticas fora delas, nasceram no seio da sociedade... Rosa Parkes, por exemplo, voltava do trabalho quando decidiu mudar a história. Carolina de Jesus escrevia o seu cotidiano de trabalho dentro e fora do lar... Cleide Regina, a Joyce, rompe o silêncio para mostrar a luta travada em seu anonimato para instituir a dignidade e provar a sua capacidade... Nise da Silveira já lutava por uma medicina humanizada... Flora Tristan dizia que no casamento, a mulher era a proletária e o homem o burguês e isso não era apenas para chamar a atenção, mas para mudar o que se arrasta até hoje... Maria Firmino fez da educação a sua arma para diminuir as lacunas sociais; assim como faz hoje Ângela Davis... Laudelina de Campos Mello organizou vozes de injustiçadas no trabalho para mostrar o quanto podemos ganhar com mais justiça social... Harriet Tubman lutou para que as mulheres pudessem adquirir voz na sociedade.... Narcisa Amália de Campos foi a primeira mulher a trabalhar como jornalista profissional no Brasil e sua história ainda continua bem perto de nós... Ida B Wells também dedicou sua vida ao jornalismo antirracista...

Isso tudo para nos lembrar de que muitas de nossas ações hoje são frutos de vozes que se levantaram, não para guerrearem, mas para implantarem uma justiça social, que todos os homens clamam, mas que poucos param para analisar as suas reivindicações em sentido coletivo, fora dos anseios individuais, que sempre irão beneficiar poucos, porém esses poucos poderão destruir muitos ou construir para diminuir distâncias.

Fechando parêntese...

 

Muitas lutas sociais saíram das empresas, mas não retornaram a elas, impedindo assim diálogos salutares e o compartilhamento da realidade dos seus colaboradores com a empresa para evitar, ainda mais, conflitos.

Porém, uma “comunicação sustentável” começa a ser inserida nas empresas por dirigentes mais comprometidos, que não desejam mais se omitirem perante as reivindicações impostas por suas comunidades e, agora, frente às exigências do tripé da Sustentabilidade, dos ODS e da Agenda ESG. Passamos assim, por longos períodos de incertezas sobre verdades apresentadas por especialistas, ativistas, cientistas, até desembarcarmos em nosso período da história: um porto ainda não seguro, mas mais transparente, onde podemos identificar muitos de nossos inimigos, mostra-los à sociedade e, no mínimo, solicitar amparo e restituição legal.

Diante do exposto, no início de abril, dois fatos chamaram a minha atenção na luta pela sustentabilidade social e, portanto, por uma comunicação mais inclusiva e tudo isso envolvendo pessoas, empresas e sociedade...

O primeiro foi das duas brasileiras presas na Alemanha por tráfico de drogas e as sérias implicações que teriam ocorrido se não fosse a “ingenuidade” de um dos participantes da quadrilha na troca das etiquetas das malas em não pensar que pudesse estar sendo filmado. Porém, caso os verdadeiros culpados fossem mais “espertos” o que teria acontecido? Quais as responsabilidades das empresas perante todo o episódio e aos traumas causados a elas e aos seus familiares? Autoridades já falam em uma indenização exemplar, ou seja, milionária, para que as empresas “sintam no bolso” e assumam as suas responsabilidades. O que eu concordo plenamente, pois, caso contrário, provamos que toda essa fala de agendas sustentáveis é puro “Greenwhashing”... pura falácia!

Por outro lado, nos deparamos com uma cena assombrosa, para os dias atuais, da “senhora”, que ataca dois entregadores de forma violenta, abusiva e racista, frente a uma conduta dos dois trabalhadores que não revidam as agressões, colocando em evidência, ainda mais, a sua atitude.

Nesses dois casos, o que chama a atenção, é o tratamento dado à “violência emocional e psicológica” das vítimas,

 

“A violência emocional e psicológica é mais prevalente do que a violência física! Qualquer pessoa pode ser vítima de violência emocional e psicológica, independentemente da sua idade, género ou profissão. A violência emocional e psicológica corresponde a um conjunto de atos verbais ou não verbais, isolados ou repetidos, utilizados de forma intencional para causar dano e sofrimento emocional e psicológico na vítima.” - Dados de outubro de 2020 da Ordem dos Psicólogos.

 

lembrando que esse tipo de violência era muito comum nos ambientes de trabalho, onde chefes oprimiam seus funcionários com violência psicológica de forma a colocá-los em patamares inferiores, diminuindo suas autoestimas e, portanto, manipulando suas ações. Uma prática absurda para os dias atuais, mas ainda exercida por empresas que se utilizam de trabalhadores que exercem funções análogas à escravidão.

 

ODS-16. Paz, Justiça e Instituições Eficazes - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

 

Neste sentido, das consequências psicológicas, temos que lembrar que elas são extensivas aos parentes e as pessoas ao redor da vítima. Portanto, quando falamos em reparação temos que analisar toda a trajetória desse abalo e fazer com que a sociedade envolvida e seus agressores arquem com as consequências.

No caso das viajantes foi claramente mencionado sobre os aspectos legais a serem acionados nessa direção, porém no caso dos entregadores ainda não ouvi pronunciamentos no sentido de uma indenização milionária para reparar os danos psicológicos que assolou toda a família.

Não podemos mais ficar calados frente a esses absurdos e abusos, seja nas empresas, seja na família, seja com amigos ou em sociedade, pois o nosso avanço tecnológico não permite mais que sejamos tão pequenos perante o nosso outro, o outro ser humano!

Não podemos permitir que agressões físicas e/ou psicológicas, agressões verbais, continuem a ocorrer por parte de pessoas que não contribuem para o desenvolvimento social e moral de nossa sociedade, pessoas que não acrescentam para o nosso progresso, que colocam o nosso “poder de comunicação” em xeque e, portanto, fora de qualquer agenda de sustentabilidade...

Fora de ações com “P.A.Z.” (com “Pessoas de A a Z”, pessoas íntegras, inteiras).

Nossa saída é aprimorarmos os nossos diálogos locais, nossos “Diálogos Sustentáveis”, para atingirmos metas globais de desenvolvimento e compartilhamento de uma vida mais suportável.

Rose Campos

Jornalista, Mestre de Cerimônia, Ass. de Comunicação e Sustentabilidade e Apresentadora do Programa Ecos do Meio na Rádio/TV Mega Brasil.