Por Pedro Bentz
19 de Dezembro de 2023 | 09h00
Divulgação
Pedro Bentz, do Grupo report
Nos últimos 5 anos, as questões socioambientais ganharam destaque nas decisões de organizações privadas, incluindo empresas e instituições financeiras. A crise climática, o declínio da biodiversidade e recursos naturais, o excesso de plástico e as desigualdades sociais refletem uma sociedade disfuncional. O crescente interesse de stakeholders nessas questões pressiona empresas a agir. Em 2007, surgiu o mercado de dívida ESG, permitindo a "rotulação" de operações com impacto positivo. Desde então, esse mercado cresce progressivamente, tornando-se mais influente globalmente.
Ao longo dos últimos anos, o mercado de dívida ESG brasileiro vem se consolidando. Atualmente, representa algo entre 15% e 30% do mercado total de dívida nacional, enquanto na América Latina é de 30% e no mundo se estabelece entre 5% e 6%. Os instrumentos financeiros que constituem esse mercado são conhecidos como “GSSS” (do inglês “Green, Social, Sustainability e Sustainability-linked”) “Bonds/Loans”, eles respondem a uma demanda cada vez maior de investidores e instituições financeiras por ativos aderentes ao enfrentamento dos grandes desafios da Sustentabilidade. Pelo lado das empresas, o interesse pode se dar pela possibilidade de acessar alguns racionais. Por exemplo:
● Custo de capital: consiste na crença da existência de um prêmio de Sustentabilidade que permite à empresa um financiamento mais barato enquanto os investidores aceitam retornos menores pelo avanço em Sustentabilidade. Não há consenso na literatura que permite cravar que operações rotuladas garantam acesso a financiamentos mais baratos.
● Greenwashing: ocorre quando uma empresa promove e divulga iniciativas favoráveis ao meio ambiente, mas opera de uma maneira oposta ou muito aquém ao objetivo propagado de suas iniciativas. Há o risco de operações rotuladas como sustentáveis serem utilizadas como uma ferramenta de marketing para alavancar dinheiro.
● Sinalização para o mercado: na teoria da sinalização, um sinal é dito crível quando se faz custoso para companhias com características menos desejáveis imitá-lo. A emissão de títulos rotulados pode ser interpretada através dessa lente. Investidores usualmente carecem de informações suficientes para a avaliação do comprometimento com questões socioambientais de empresas. Da perspectiva do investidor, isso gera uma demanda para a possibilidade de distinção (com credibilidade) entre as empresas que estão comprometidas com a agenda da Sustentabilidade e aquelas que não estão.
Os racionais que se relacionam com as áreas de Comunicação são os de greenwashing e de sinalização, sendo paradoxais. A concretização de um ou de outro vai depender da robustez das condicionantes que a empresa irá vincular à operação. O acesso ao mercado de dívida ESG acarreta um aumento de escrutínio sobre as estratégias de Sustentabilidade das empresas. Esse escrutínio é realizado por um público criterioso e muitas vezes bem informado, que estará atento às nuances pertinentes às condicionantes da operação. Portanto, se o escrutínio for estabelecido sobre algo que carece de profundidade e embasamento teórico, um desfecho provável poderá ser as acusações de greenwashing. Por outro lado, se a empresa tem uma estratégia madura e clara quanto aos impactos pretendidos, além de ambiciosa, a operação pode ser uma excelente forma de sinalizar aos seus stakeholders o comprometimento frente aos grandes desafios da Sustentabilidade.
Logo, percebe-se que o acesso às operações rotuladas pode ser uma excelente forma de empresas construírem um posicionamento crível frente à agenda da Sustentabilidade, visto que não é algo tão trivial de ser replicado. A força dessas operações como meios para um fortalecimento reputacional reside na manutenção da credibilidade do mercado como um todo. Portanto, ocorrências de greenwashing não são degradantes apenas para as empresas acusadas, mas também para o mercado. Nesse sentido, diligências se fazem necessárias para que os profissionais de Comunicação possam, a partir de um embasamento sólido e com referencial teórico apurado, serem assertivos e claros em relação aos benefícios socioambientais pretendidos com a operação. Sendo assim, a responsabilidade ao transmitir esses impactos se faz importante não somente para que a empresa possa concretizar o benefício da sinalização, mas também para que as operações sigam aumentando sua representatividade no mercado de dívida global.
Pedro Bentz
Pedro Bentz conduz projetos de diagnóstico e estratégia, além de coordenar a entrada do Grupo report na frente de Finanças Sustentáveis. Graduado em Engenharia de Produção pela PUC-Rio, e mestre em Ciência da Sustentabilidade pela mesma universidade, atua com Sustentabilidade Corporativa desde 2021.